Se for fazer um filme, nunca esqueça o ponto de partida inspirador da história

Para transformar uma história em filme, o realizador audiovisual percorre um longo caminho. Durante a jornada é fundamental não perder o que motivou a viagem. A dica é da roteirista, diretora e montadora Lulu Corrêa. Desde domingo (14/04), a professora de roteiro e de direção para ficção vem orientando as autoras e autores de histórias selecionadas do Curta Vitória a Minas III nos primeiros passos para a criação dos filmes. Nesta entrevista, Lulu fala dos desafios enfrentados por quem decide fazer o primeiro filme, qual erro mais comum cometidos durante o fazer audiovisual e como o processo de construção coletiva e compartilhada do projeto cria uma ambiência de novos aprendizados para alunos e professores.

Quais são os principais desafios enfrentados por alguém que vai construir o seu primeiro filme seja um documentário seja uma ficção?

Lulu Corrêa – O primeiro desafio é passar para tela uma ideia, transformar uma ideia em imagens e sons. Um outro desafio: o filme está contando aquilo que eu queria contar? Como não perder o foco narrativo quando está filmando? Porque no set de filmagem acontecem muitos imprevistos. Então, como não se distrair da sua própria ideia. Às vezes, tem uma paisagem muito bonita do lado e você se encanta e esquece a razão da cena. Este é um desafio: não perder o fio da meada, o foco da história.

Se desapegar de alguma ideia que depois pode não contribuir com o filme também é um desafio?

Lulu Corrêa – Às vezes, a pessoa acha importante alguma coisa que nem tem tanta importância para a história que ela escreveu. Quando as pessoas defendem ou contam a história, elas têm muita certeza do que estão falando. Mas, na hora de roteirizar, vem a pergunta: “cadê aquilo que você falou quando contou a sua história? Esse roteiro não está contando a sua história”. O exercício que precisa ser feito é o de transposição para o audiovisual desta ideia que está tão definida na contação de história.

Qual erro mais comum cometido por quem vai fazer o seu primeiro filme?

Lulu Corrêa – O erro mais comum é esquecer a razão principal da cena. É investir o maior número de planos num detalhe que não é a essência da cena. Às vezes, fulmam-se vários detalhes desnecessários e aquilo que era tão importante para a dramaturgia é feito em um plano só, muito rapidamente, e acabou. Daí surgem questionamentos como, por exemplo: “Mas por que você não mostrou mais de perto a reação do personagem?”.

Então, no momento da construção da cena, é preciso ter evidente qual o foco principal daquela cena. Pode ser uma emoção, um sentimento?

Lulu Corrêa – Muitas coisas, na hora da filmagem, podem ser adaptadas ou eliminadas. Mas tem coisa que você não pode eliminar. Então, é preciso saber o que não pode ser eliminado. O que tem que ser feito necessariamente. É isso que o realizador não pode perder de vista porque na filmagem acontecem muitos imprevistos e interferências como um atraso, o sol que foi embora ou o ator que precisa sair mais cedo.

Como avalia esse processo de imersão audiovisual para construção conjunta dos filmes baseado na participação, no compartilhamento de ideias entre as autoras e autores?

Lulu Corrêa – É muito rico porque é uma troca de experiências, de vivências e um aprendizado generalizado. A cada edição eu também aprendo muito porque lido com pessoas de diferentes lugares, com temáticas diferentes. São pessoas que dominam os assuntos que trazem e que têm também um frescor, uma leveza, pois estão em contato pela primeira vez com o cinema e com o audiovisual. Esse encontro é muito revigorante para a gente também. E esta troca não acaba quando termina o filme. É um aprendizado para a vida, trabalha as formas de olhar o mundo, as representações da sociedade, as construções das narrativas. Os roteiristas têm um olhar muito generoso para o mundo, eles experimentam pontos de vistas diferentes. É uma abertura de visão de mundo que a pessoa leva para o resto da vida.

Como você avalia a coletânea de histórias desta terceira edição do Curta Vitória a Minas?

Lulu Corrêa – Eu acho que ela tem uma diversidade. As histórias são maravilhosas e as pessoas chegaram com um preparo muito grande em relação à própria contação de histórias, à visão de mundo. O grupo é muito interessado, criativo. Eles interagem entre eles e estão muito empenhados em aprender tudo.

Para que estas histórias e autores (as) possam aproveitar da melhor forma todo esse processo de realização audiovisual e construir boas obras, o que não pode faltar?

Lulu Corrêa – O que não pode faltar é o ponto de partida, aquilo que te motivou a escrever. É a sua relação com esta história, com este tema, é o que te impulsionou. Seu mergulho nesta ideia é o seu leme. Esse é o filme que só você sabe e domina. A alma da sua história está dentro de você.

Texto: Simony Leite Siqueira

Fotos: Gustavo Louzada

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