Roteiro: aqui começa o filme

As dez histórias selecionadas pelo Curta Vitória a Minas II começaram com uma ideia ou uma inspiração dos autores. Agora, reunidos em Santa Cruz, em Aracruz (ES), para as oficinas audiovisuais, eles encaram novos desafios para transformar o que contaram em curta-metragem. Uma das missões é a escrita do roteiro.

Assim como um livro pode ser dividido em capítulos e uma peça teatral em atos, a estrutura do roteiro é a divisão da história em cenas e planos. Funciona como um guia com as ações dos personagens para orientar o trabalho da direção, da fotografia, do som, da produção, da direção de arte, da montagem, de toda a equipe responsável por realizar o filme.

“É preciso escrever de tal forma que possa filmar para, em seguida, filmar de tal forma que possa montar”, orienta a roteirista, diretora e montadora, Luelane Corrêa, uma das responsáveis por acompanhar a turma de ficção no desenrolar destas descobertas cinematográficas.

A partir daí, o autor e a autora de cada história vão se deparando com uma série de conceitos e técnicas do universo audiovisual como entender que o filme é um conjunto de cenas, assim como as cenas formam um conjunto de planos, e que roteirizar é dividir a história em cenas e planos.

As escolhas estão relacionadas aos desejos, motivações e necessidades de quem escreve. Quais sentimentos esta história provoca em quem escreve? Esse é a emoção que se deseja provocar no espectador? Para quem é feito o filme? O que move ou perturba um personagem? Um desejo, um problema, um dilema? São perguntas norteadoras deste processo da realização. “Toda história tem um começo, meio e fim, embora possa ser contada em qualquer ordem”, provoca a professora.

Segundo Lulu, o roteiro é fundamental para não se perder o fio da meada de modo a preservar a unidade dramática. Com histórias tão diferentes entre si, os autores refletem sobre as necessidades de suas obras e ainda contribuem e aprendem com a elaboração dos roteiros uns dos outros.

Autora da história “A Saga de Dezinha”, a auxiliar de serviços gerais, Luciene da Conceição Mendes Crepalde, de 40 anos, moradora de Nova Era, em Minas Gerais, nunca escreveu um roteiro. Em toda a vida foi apenas uma vez ao cinema, embora amasse assistir aos filmes de ação na televisão da casa da tia.

“Antes de vir para o curso, pra mim, um filme de 15 minutos era pouco tempo. Só que fazer um filme de quinze minutos leva muito tempo. Você pode gastar até três meses pra fazer porque grava várias vezes, em vários ângulos, em várias distâncias, perto e longe, com muitas coisas aparecendo, ou só com uma, focando”, relata. Dezinha, como é conhecida a mineira, resgatará em seu filme uma das lembranças da infância, quando viajou 16 quilômetros numa bicicleta com o pai e a mãe para fazer compras na cidade. 

Vinda de Aimorés, em Minas Gerais, a professora e jornalista Elisangela Bello, de 43 anos, selecionada com a história “Lia, entre o Rio e a Ferrovia”, precisou escrever roteiros na época da primeira graduação de jornalismo. Apesar disto, as aulas também lhe trazem novas descobertas.

“Você reaprende, relê, olha com o olhar de quem está produzindo constantemente, quem está na área de cinema, quem pensa, não só na etapa final, mas no processo. Isso faz com que a gente também consiga tirar nossa ideia do papel e comece a ver a história se constituindo no audiovisual, numa outra linguagem. É uma experiência que é muito gostosa e que sempre tem algo pra aprender”, avalia.

Feita quase numa cadência de um poema, sua história é um mergulho nas memórias de infância na relação com rio e a estrada de ferro. “Aos poucos, estou construindo a minha noção de ápice, de climax do filme, daquele momento em que você se emociona. Estou conseguindo me desprender do texto escrito e passar para este outro momento que é proporcionar sensações, fazer com que a pessoa que assiste o filme embarque numa viagem com você através do audiovisual”, declara Elisangela.

Texto: Simony Leite Siqueira

Fotos: Gustavo Louzada

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