Roda de conversa encerra gravações em Naque (MG)

Um encontro com a família em volta da fogueira para ouvir causos e uma boa conversa sobre as memórias do passado encerrou nesta quarta-feira (15/02/23) as gravações da ficção “O Tempo era 1972”, em Naque (MG). Com roteiro, produção e direção do aposentado Ademir de Sena Moreira, a história selecionada pelo Curta Vitória a Minas II resgata lembranças de luta e resistência de um menino ao lado dos pais e dos irmãos no enfrentamento da pobreza.

As gravações começaram na segunda-feira (13/02/23) e se estenderam por três dias de filmagem e dedicação do diretor, familiares, amigos e da equipe de profissionais do projeto coordenado pelo Instituto Marlin Azul. Nem mesmo o calor, a ansiedade, o nervosismo e o cansaço desanimaram o set de filmagem. “É uma experiência nova, mas muito valiosa, como a chance de reunir amigos que se dispõem a vestir a camisa somente por serem amigos. Chega numa hora destas que a gente vê as amizades, ao encher um caminhão e fazer a coisa acontecer de boa vontade. Eles se dispuseram a estar comigo, acreditaram no meu trabalho e ficaram muito satisfeitos. Todos muito alegres de estar ali”, relata o diretor.

Ademir conta que, durante as oficinas de estudos audiovisuais e de preparação para a construção dos filmes, em setembro do ano passado, voltou ao passado diversas vezes para organizar os elementos visuais e sonoros da narrativa do filme. No decorrer dos três dias de gravação, esse retorno aos tempos remotos da adolescência era revivido a cada cena. “Eu me emocionei ao ver a minha irmã fazendo o papel da minha mãe na cozinha, ao ver os meninos entregando o dinheiro da venda dos pães, ao ver os meninos vendendo os pães na linha férrea, subindo no caminhão com a ajuda do meu pai. É um curta-metragem ímpar na minha vida”, avalia.

A experiência de realizar o primeiro filme despertou um carrossel de emoções. “Até agora, fico pensando: é eu mesmo? Porque o sobe e desce, o esquenta e esfria, não passava durante as filmagens. No primeiro dia foi assim, no segundo aliviou, no terceiro voltou tudo de novo. Havia aquele medo de não conseguir, de ficar devendo alguma coisa, aquela ansiedade de não estar correspondendo à altura. É tudo muito novo pra gente. E, assim, é trabalhoso? É. É cansativo? É. Mas chega no final, a gente percebe que vale a pena porque muitas pessoas se emocionaram”, relata o aposentado.

Ontem (15/02/23), último dia da gravação, Ademir, parentes de diferentes gerações e membros da equipe se reuniram à noite em torno da fogueira montada no quintal do Sítio “Encanto dos Recantos” de propriedade da família. O encontro comporia uma das cenas da obra ao reunir os causos e as histórias antigas. A grande surpresa da roda de conversa foi a participação da matriarca Maria José Moreira de Sena, mais conhecida como Naná, que completará 89 anos no próximo mês de março. Naná pensou em não participar porque nunca gostou de aparecer em retrato. Mas tudo mudou.  

“Fiquei muito satisfeito também com a presença da minha mãe. A gente achava que ela não vinha e, no entanto, ela surpreendeu demais ao vir à minha casa à noite, apesar da distância e da idade dela. Eu estava com medo dela não querer dar o depoimento, mas, ela participou. Todo mundo ficou alegre, todo mundo participou, viveu a emoção juntamente comigo. Foi muito bom!”, celebra Ademir.

Quem já gravou e quem ainda vai gravar

Desde janeiro, a equipe de profissionais de imagem, som e produção do Curta Vitória a Minas II vem percorrendo as cidades mineiras e capixabas selecionadas para executar, em conjunto com cada autor e membros de cada comunidade, cada plano de filmagem.

Já foram gravados os filmes “Dezinha e Sua Saga”, da auxiliar de serviços gerais Luciene Crepalde, de Nova Era (MG); “Reciclando Vidas e Sonhos”, da coletora de materiais recicláveis, Ana Paula D C Imberti, de Ibiraçu (ES); “O Último Trem”, do vendedor Fabrício Bertoni, de Colatina (ES); “Santa Cruz”, de Rita Bordone, de Ipatinga (MG), e “O Tempo era 1972”, do aposentado Ademir de Sena Moreira, do Naque (MG).

Ainda serão realizados os seguintes curtas-metragens: “T-Rex e a Pedra Lascada”, do biólogo Luã Ériclis, de João Neiva (ES); “Colatina, A Princesa do Rock”, do jornalista Nilo Tardin, de Colatina (ES); “Lia, Entre o Rio e a Ferrovia”, da professora e comunicadora Elisângela Bello, de Aimorés (ES); “Mães do Vale: Um olhar sobre a Maternidade”, da contadora Patrícia Alves, de Coronel Fabriciano (MG); e “Um Ponto Rotineiro”, da estudante Jaslinne Pyetra, de Baixo Guandu (ES). Depois de prontos, os filmes serão exibidos para as comunidades numa tela de cinema montada ao ar livre em sessões gratuitas nas cidades envolvidas.

O Curta Vitória a Minas II é patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, e conta com a realização do Instituto Marlin Azul, Ministério da Cultura/Governo Federal.

Texto: Simony Leite Siqueira

Fotos: Gustavo Louzada

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