O som ao redor de tudo

Os primeiros filmes da história não tinham som. O cinema era mudo porque até a década de 20 do século passado ainda não existia uma técnica que pudesse sincronizar imagem e som. Mesmo nos primórdios da sétima arte, quando a imagem reinava soberana, o som dava sinais do seu valor. Isso acontecia, por exemplo, numa época em que a música era executada ao vivo na exibição para criar a ambiência sonora. Com a evolução tecnológica e a construção da linguagem cinematográfica, o som assumiu para sempre o seu poder de contar uma história.

Durante as aulas do Curta Vitória a Minas III, as autoras e autores das histórias reunidos em Guarapari (ES) começaram a entender como é importante estruturar os ruídos, os diálogos, as músicas, os efeitos sonoros, o som ambiente e até o silêncio de uma obra audiovisual. Quem orientou os participantes nos exercícios de experimentação da captação do som no set de filmagem foi o técnico de som Pedro Sá Earp. 

“O som é extremamente sensorial, te transporta, traz tridimensionalidade, além de ser uma figura de linguagem. Ele constrói o espaço e o amplia para além do que se está vendo sem ter uma coisa tão descritiva como é a imagem. O olho está trabalhando o tempo inteiro, mas o som nesta hora é mais rápido porque chega antes e atinge de maneira sensorial. Vamos dizer que um filme é um mergulho dentro de um universo ou dentro de uma história. Então, ter esta noção, esta consciência desde o início, desde a gênese da ideia inicial do filme, é fundamental”, orienta o professor.

A trilha sonora conecta e desperta emoções, sentimentos e sensações. De acordo com Pedro, os primeiros escritos das histórias reais e inventadas da terceira edição já trouxeram diferentes elementos sonoros. “Agora, com a escrita do roteiro, eles já estão mais conscientes desta linguagem sonora. Por exemplo, “ele ficou triste porque ouviu algo assim” ou “os pássaros cantavam pela manhã”. Perceba quanta indicação sonora aparece no texto. Quando vamos reconstruir uma sensação, estamos cercados de vibrações, então, isso faz parte destas descrições e eles fizeram isso com muita competência”, relata Pedro.

Luzia di Resende, autora da história “O Pássaro”, vinda de Ipatinga (MG), sabia da importância do som para o filme, no entanto, foi nas aulas práticas da oficina que entendeu como decupar o som de um roteiro, ou seja, como identificar, estabelecer sentidos e organizar os elementos sonoros de uma obra. “O som é invisível, mas de uma presença marcante e fundamental para ambientar, emocionar, criar os climas do filme. É preciso entender que os ruídos e as diferentes sonoridades do ambiente são importantes. Também é essencial apurar a audição para reconhecer os sons que não deveriam estar no seu áudio”, avalia a autora.

Pedro Sá Earp destaca alguns cuidados valiosos para a construção sonora do filme. Segundo ele, o realizador (a) deve saber o que vai pedir para cada setor da equipe de produção. “Por exemplo, vou precisar de um som da água que vai entrar no plano da menina que está se abaixando, pega uma pedrinha e ouve o barulho do remo passando na água. Nós gravamos estes elementos em separado durante o exercício. Eles estão tendo o primeiro contato com este mundo prático”, exemplifica Pedro.

Em outras palavras, o realizador (a) deve estar atento para identificar e captar na gravação todos os elementos sonoros essenciais para contar a história. “Quem está fazendo um filme é um maestro, tem uma orquestra e, se o tímpano não tocar na hora certa, vai ter que arrumar um tímpano para botar no teu disco para tocar. Se este tímpano vai soar bem ou não vai soar bem não se sabe, mas você vai precisar deste som porque senão a sinfonia não fica completa. Esta é uma boa metáfora”, pontua o técnico de som direto.

O estudante de Fisioterapia, Pedro Vinícius Siqueira, morador de Governador Valadares (MG), transformará em filme a história “Os Amigos da Água”. No decorrer dos exercícios para simular um set de filmagem, ele experimentou a função de técnico de som direto. “Foi uma experiência incrível porque a gente sempre tende a valorizar bem mais a imagem que o som. Ver toda a importância na prática que o som tem e toda a experiência audiovisual muda completamente a nossa forma de ver o cinema. E a forma como o som é utilizado durante as cenas altera completamente a nossa percepção destas cenas”, avalia o autor.

Texto: Simony Leite Siqueira

Fotos: Equipe IMA

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