Montar é escolher e estabelecer relações  

O processo de escrita dos planos e das paisagens sonoras de um filme começa no roteiro e termina na sala de montagem. Montar tem muitos conceitos: organizar, escolher, selecionar, descartar, construir, reconstruir e criar relações, sejam diretas ou estranhamente fabulosas, entre os diferentes elementos de uma obra cinematográfica.

Os dez autores de histórias selecionadas do Curta Vitória a Minas escreveram o roteiro, simularam sets de filmagem, começaram a organizar o plano de produção e exercitaram a montagem durante as oficinas audiovisuais. O curso teve início no dia 04 de setembro e se encerra hoje (19/09).

Desde o primeiro dia do encontro, a editora e diretora, Marcia Medeiros, vem acompanhando a jornada dos novos roteiristas, produtores e diretores. Nesta entrevista, a professora conversa um pouco sobre os desafios da montagem para realização audiovisual.

CVM – O que é a montagem?

Marcia – A montagem começa no roteiro, quando pensamos o filme a partir de planos de imagens, que podem ser imagens em movimento, fotos, documentos, arquivos, e a partir dos planos sonoros, que podem ser diálogos, som ambiente, ruídos, foleys, trilha sonora, etc.

Quando vamos para o set de gravação fazemos com que estas partes imaginadas passem a existir. E, finalmente, na montagem, reconstruímos tudo o que foi imaginado e preparado em partes e as colocamos em relação. As imagens se relacionam com o som, as palavras com a trilha sonora, as imagens com outras imagens e, assim, vamos produzindo sentidos que nos ajudam a criar o modo como queremos contar as histórias.

A montagem é fundamental para estabelecer o espaço/tempo do mundo que estamos inventando. A edição propõe um ritmo a partir da duração dos planos, manipula o tempo, cria elipses de 200 anos pra trás ou dois dias pra frente, ou um segundo adiante, levando o espectador pra outro planeta ou para o mundo dos sonhos.

A edição é um saber bastante técnico e muito artístico. Aqui no nosso projeto estamos tentando preparar os recém-formandos diretores e roteiristas para que eles sejam capazes de se apropriar de todas as possibilidades que têm para que, em cada etapa da produção dos filmes, estabelecerem a linguagem de seus filmes. Escolher, descartar, relacionar, produzir novos sentidos, inventar um mundo.

Pra isso, é preciso chegar à ilha de edição levando todas as partes: planos, imagens e sons que queremos colocar em relação.

CVM – O que pode prejudicar a montagem ao longo de todo este processo de produção que começa no roteiro?

Márcia – Não ter todos os elementos que precisamos e não ter conhecimento profundo sobre o material gravado. O que não pode faltar pra montarmos um filme? Tudo o que a gente deseja e que a história precisa para ser contada.

CVM – Com o planejamento e a organização da ideia, o realizador consegue driblar muitos problemas. Além disso, também é necessário estar com o olhar aberto e atento para perceber os novos caminhos que podem surgir antes e na hora da montagem.

Márcia – Como o cinema é um processo criativo que fazemos coletivamente, a diretora ou diretor vai o tempo todo ouvir sugestões, ter novas ideias, receber críticas de outros membros da equipe. Além disso, quando vamos para o mundo, nos abrimos para o acaso. É preciso estar preparado para o acaso sem perder o rumo. Ter domínio absoluto do roteiro, decupar cada cena, se apropriar da linguagem com a qual queremos contar a história é fundamental para não nos perdermos, aproveitando os desvios do caminho. Desviar sem desencaminhar. É não cansar de se perguntar a todo tempo: qual é a história que quero contar?

Texto: Simony Leite Siqueira

Fotos: Gustavo Louzada

Exercício da aula de fotografia/edição – Curta Vitória a Minas
Exercício da aula de fotografia/edição – Curta Vitória a Minas

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