Fotografia para dentro e para além da visualidade

Quando a tela do cinema se abre diante dos olhos um mundo inteiro se forma. A atenção e a percepção se voltam para aquela história. Tudo acontece tão perto como se as emoções e as sensações ultrapassassem o quadro. Esta conexão entre a tela e quem assiste a uma obra é construída através da linguagem cinematográfica. Um dos elementos consagrados desta magia é a fotografia. As autoras e autores do Curta Vitória a Minas III estão aprendendo na prática a enxergar e a escutar suas histórias através de imagens e sons. As aulas acontecem no Terraço, em Perocão, Guarapari (ES).

A escrita da imagem é composta por uma gramática formada pelos tipos de câmera e lentes, as escolhas de iluminação, os enquadramentos, os ângulos, os movimentos de câmera e muitas outras decisões visuais. Apesar do impacto da visualidade, sua força é também a soma das potências dos demais elementos em cena como o som, a direção de arte e a atuação dos personagens.

A primeira imagem

Para despertar na pele o entendimento em torno desta estrutura, a equipe de professores do projeto propôs aos participantes gravar uma cena. A ideia era que cada um dirigisse uma cena do roteiro que escreveu e envolvesse nas equipes artísticas e técnicas os demais autores e autoras. Um dos orientadores do exercício foi o diretor de fotografia Alex Araripe. Durante o experimento, ele destrinchou um pouco como a fotografia do filme se estrutura dentro da linguagem cinematográfica.

“Quando se lê um roteiro, qual é a imagem primeira que surge? Esta imagem é muito poderosa. É uma coisa bem germinal porque aquilo ali, na maioria das vezes, é o que dá o rumo. É uma imagem que está na lembrança, na reminiscência, na experiência vivida por quem criou e contou aquela história. Isso é muito importante porque é partir dali que o universo do filme se abre”, explica Alex.

Quais são as referências

A pesquisa visual é fundamental na criação de um projeto fotográfico para o cinema. De acordo com o diretor de fotografia, é muito importante para o realizador (a) entender sobre o que é o filme, quais as emoções, as tensões envolvidas na história e, a partir disto, buscar referências visuais e, até mesmo, não diretamente visuais como, por exemplo, uma poesia e uma música. Para ele, o arcabouço de obras já pensadas e executadas dentro daquela temática podem inspirar e indicar caminhos para as novas criações.  

“Um dos grandes baratos da obra artística – e o cinema é muito potente também nisso – é este processo de projeção e identificação com aquela história. Isso acontece, por exemplo, quando vemos uma história que é particular de uma cidadezinha pequenininha em algum canto do Brasil passar num festival mundo afora. As pessoas se identificam com aquilo porque tem elementos universais ali do ser humano”, explica o professor.

O processo e a colaboração

Toda produção artística é um processo. Começa com uma ideia. Esta semente floresce a partir de novas ideias vindas das referências de outras obras e por meio das trocas permanentes com a equipe. O plano de filmagem nasce do conjunto destas impressões e intercâmbios. “Quanto mais pré-produção, quanto mais testar, discutir, compartilhar e quanto mais se conseguir transformar em imagens todas as referências, todos processos, mais fácil é a execução de um plano de filmagem, mais segurança para sair do plano e mais possibilidade de ter um set tranquilo no sentido de experimentar”, relata Alex.

Conhecer, experimentar para cortar e recriar

As dez histórias selecionadas chegaram à terceira edição do concurso em formato de argumento. No decorrer do curso básico, elas foram traduzidas em cenas. O roteiro ganhou mais camadas visuais com as referências de arte que orientarão o realizador (a) na seleção de locações, na organização de cenários, na escolha de objetos de cena e das mobílias, na confecção dos figurinos e na definição de cores e suas nuances. Nesta trajetória de treze dias, os participantes já percorreram uma longa caminhada na construção das obras.

“No meu primeiro contato com o projeto eu recebo as histórias que eles enviaram para o concurso. Eu me projeto naquelas indicações que o autor ou diretor colocou naquela história. Se alguém descreve: “Ele andou de noite numa rua fria no subúrbio de Vitória”. As imagens estão ali. Tudo começa ali, aquela impressão é muito forte. A gente está fazendo muitos exercícios práticos e, depois destes dias, vemos todo mundo com a canetinha e o roteiro cortando coisas, mudando coisas, porque este é o primeiro momento que eles começam a entender qual o tempo de fazer isso dentro do desenho do projeto de produção”, detalha o professor.

O set de filmagem é o espaço de concretização de tudo o que foi planejado. Um dos grandes dramas do diretor (a) é onde posicionar a câmera, onde termina cada plano e qual o momento ideal de dizer corta. O exercício de estruturar uma cena em imagens, sons e dramaturgia impactou as autoras e autores. “A experiência de gravar é uma sensação de ver o filme tomando corpo. Vamos aprendendo as complexidades de colocar na tela uma história que a gente escreveu. Este momento de assumir a direção é incrível, emocionante e cheio de significados porque começa a concretizar o sonho de fazer o filme”, descreve a autora de “Revelações de Carnaval”, Sandra Coelho, moradora de Nova Era (MG).

A moradora de Ipatinga (MG), Luzia de Resende, acostumada com o palco do teatro, se viu diante do desafio de aprender uma linguagem nova. “A feitura de um filme é realizada em etapas e o aprendizado desse processo também tem sido em etapas. Da criação da história para a idealização da imagem que conta a história. Mas colocar as imagens mentais na tela é um exercício incrível onde técnica e criatividade trabalham juntas e experimentar essa materialização com todas as suas dificuldades é imprescindível”, relata Luzia, selecionada com a história “O Pássaro”.

Texto: Simony Leite Siqueira

Fotos: Equipe IMA

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