Força e solidariedade feminina resgatam mulheres grávidas

A preparação para a chegada de um bebê costuma ser um momento especial e repleto de alegrias para a mamãe, o filho e a família. No entanto, para muitas mulheres, a gestação vem carregada de traumas, dores emocionais e sentimentos negativos. Em fase de gravação, o documentário “Um Olhar para a Maternidade” quer contar como a força, a união e a solidariedade feminina vêm contribuindo para o resgate e a cura de gestantes em situação de vulnerabilidade social em Coronel Fabriciano (MG). O curta-metragem, que tem roteiro, produção e direção da contadora Patrícia Araújo, é uma das dez histórias selecionadas pelo Curta Vitória a Minas II. 

Uma das vivências descobertas pelo documentário é a da faxineira Brenda Paula Silva Santos, de 32 anos. Mãe do Samuel, de 12 anos, fruto do seu primeiro casamento, ela espera seu segundo filho, o Adrian. Quando descobriu a gravidez, em agosto do ano passado, ela se recuperava de um acidente doméstico que lhe ocasionou queimaduras pelo corpo. Como tomava injeção anticoncepcional, ela não esperava uma mudança tão importante na sua vida.

“Foi um susto enorme porque eu não planejava ter outro filho. Só que os remédios que eu estava tomando por causa do acidente sofrido em julho cortaram o efeito da injeção. Minha mãe chegou na minha casa em agosto e a primeira coisa que falou: faz um exame porque você está grávida”, conta.

Desde o primeiro semestre do ano passado, Brenda vinha tratando alguns problemas psiquiátricos, como transtorno bipolar, e estava afastada pelo INSS para cuidar da saúde. Por causa da gravidez, ela foi orientada a interromper quase todos os medicamentos, o que lhe causou sintomas de abstinência. “Eu não sei explicar de onde vem estas dores e emoções porque eu não consigo me abrir. É um sentimento estranho. Pra mim, qualquer coisinha é o fim do mundo. E depois que meu pai faleceu, há dois anos, ficou tudo mais difícil. Minha mãe mora longe, não tenho a presença dela”, desabafa a gestante.

Nos primeiros meses, Brenda não aceitava a gestação. Era muito complicado até mesmo acariciar a própria barriga. Ao mesmo tempo, sentia-se rejeitada por todos ao seu redor. “No início, eu não queria porque eu não me via mãe solteira, mãe solo, digamos assim. Porque eu já sou sozinha. Minha companhia é meu filho. Então, ele aguenta as barras junto comigo. Imagina cuidando de dois meninos?”, conta a faxineira.

Brenda enfrenta uma gravidez de risco devido a retirada dos medicamentos, sucessivos sangramentos, oscilação de pressão e uma diabetes gestacional. Apesar da frustração, dos riscos e da insegurança, a relação com o bebê se transformou. “Eu comecei a acolhê-lo porque, primeiro, ele não tem culpa das escolhas e dos erros da mãe dele. Com o tempo, eu passei a acreditar que era o momento de eu ter esse neném. Fui começando a sentir aquela tremidinha que dá porque eu já tive barriga, sei como que é. Então, eu conversava bastante com ele. Eu me consolava com ele. Meu filho está sendo a minha cura, sabe?”, revela a mãe.

Um novo sentir

A partir daí, a mamãe construiu uma nova relação com a gestação que a levou a procurar ajuda e acolhimento do Projeto Acolher, desenvolvido pelo Instituto Brasileiro Missão de Mãe. “Lá vemos mulheres que estão vivendo o mesmo problema. Não sou somente eu que me sinto rejeitada. Outras gestantes também enfrentam este sentimento. É uma confortando a outra, apoiando a outra. Estar perto delas acalmou um pouco meu coração e me fortaleceu mais porque antes eu não conseguia nem conversar e falar da minha vida”, relata Brenda.

Sua rotina de cuidados dentro do projeto inclui a troca de vivências com outras gestantes na roda de conversa, a consulta com a psicóloga e a arteterapia. De quinze em quinze dias, Brenda faz pré-natal para gestação de risco, na Unidade de Saúde do Centro, aonde também acontece, uma vez por mês, a consulta com a enfermeira e a nutricionista. Ela ainda faz exames mais complexos de pré-natal, no Centro de Especialidades Médicas (CEM), no bairro Silvio Pereira 2. O parto está previsto para abril.

O filme

Brenda não pensou duas vezes antes de aceitar participar do documentário. A equipe de gravação dedicou toda a sexta-feira (10/03) a acompanhar uma parte da rotina da gestante. Ao final do dia, em uma das cenas mais bonitas das filmagens, ela se banhou numa cachoeira na Serra dos Cocais, na área rural de Coronel Fabriciano.

“Foi um presente de Deus o dia de ontem porque as meninas são muito cuidadosas, muito atenciosas. Eu estava precisando disso. A minha expectativa em participar deste filme é mostrar pra todas as mães solteiras que ser mãe solteira não é o fim do mundo. Porque eu ficava com medo do julgamento, sentindo vergonha, como se estivesse fazendo alguma coisa errada, como se alguém tivesse a ver com a minha vida”, conta a antiga babá, com 3º ano do ensino médio incompleto, que pensa em um dia fazer um curso de cuidadora porque sempre gostou de ajudar as pessoas. Mas esse sonho ela guarda para um futuro distante. Antes, ela quer cuidar do presente e do futuro dos seus dois filhos. As gravações tiveram início na quarta-feira (08/03) e se encerraram neste sábado (11/03).

Texto: Simony Leite Siqueira

Fotos: Gustavo Louzada

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