Festa e nostalgia na Beira Rio de Colatina

Uma noite festiva, aconchegante e repleta de nostalgia se formou na Área Verde de Eventos da Beira Rio, em Colatina (ES), para o lançamento dos curtas-metragens com roteiro, produção e direção de moradores do município selecionados pelo Curta Vitória a Minas II. As duas obras de destaque da quarta noite da mostra de ficções e documentários resgatam acontecimentos marcantes da história da cidade. Horas antes da exibição, o dourado do sol riscou o horizonte para acolher a montagem da estrutura de cinema composta por uma telona de 9×6 metros, projetores, sistema de sonorização e cadeiras para acomodar os espectadores.

Uma das estrelas da noite, a ficção “O Último Trem”, do diretor Fabrício Bertoni, recorda o tempo da retirada dos trilhos do centro, no ano de 1975, para melhorar a circulação urbana na região central que crescia de modo acelerado e não comportava mais a passagem do trem. Uma das singularidades do filme é a interação das imagens com fotos deste acontecimento feitas pelo renomado fotógrafo Afrânio Serapião de Souza. Na década de 70, ao saber que a estação seria transferida para outra parte da cidade, o fotógrafo começou a registrar os últimos momentos do antigo trajeto da linha e do trem na interação com o centro de Colatina.  

“Quando soube que os trilhos seriam retirados do centro e tinha até data para a passagem do último trem, comecei a fotografar alguns lances do trem passando. Chegou uma hora que me arrependi de não ter feito mais imagens. Eu achava que já havia registrado muito o trem, mas acabei ficando sem uma foto do trem parado na estação e sem fotos do trem na interação com outros lugares da cidade”, desabava o fotógrafo que registrou cerca de 200 fotos em torno deste acontecimento, algumas imagens ainda inéditas para o público.

Naquele dia, Afrânio se dedicou a captar as reações do povo e o movimento nas ruas diante da passagem do último trem. Algumas imagens agora estão registradas na tela do cinema ao comporem a obra criada por Fabrício Bertoni. “Quando acabou o filme, confesso: saiu uma lágrima dos meus olhos. Foi muito lindo. Agradeço muito. Essas fotos do trem marcaram minha carreira de fotógrafo. Minha família ficou encantada e disse que esse filme parece que foi uma homenagem a mim. Estão de parabéns pelo trabalho”, declara Afrânio, hoje aos 87 anos, que participou da sessão acompanhado da esposa, da filha e de dois netos.  

Para o diretor do curta, Fabrício Bertoni, a exibição coroou um sonho. “A sessão foi muito boa. Um sonho realizado. Valeu a pena ter feito o curso e voltar para a cidade para realizar o curta. A gente aprende que fazer um filme envolve muita gente. Eu adorei fazer este filme que retrata a história da minha cidade”, destaca o autor.

As emoções da noite vieram em dose dupla com o lançamento do curta-metragem “Colatina, a Princesa do Rock”, do diretor Nilo Tardin. Nos anos 60, ele testemunhou o impacto da chegada do rock em Colatina a partir da ousadia e do talento dos The Jet Boys, considerada a primeira banda de rock do Espírito Santo. O documentário promoveu o encontro dos integrantes da banda no LiverPub para um mergulho nas memórias colatinenses. Um dos fundadores do conjunto, o guitarrista solo Gilson Martins, conhecido no meio artístico como Gil Ayô, voltou a Colatina para participar das gravações e, agora, presenciou o lançamento da obra na Beira Rio. “Meus parabéns! Felicito a todos pela devoção por esse trabalho. Um particular agradecimento ao Nilo pela iniciativa da homenagem ao The Jet Boys com a maioria dos componentes ainda vivos. Me senti lisonjeado e feliz. Bravo! Que Deus continue abençoando toda a equipe de A à Z”, declarou Gilson que há 40 anos mora na França, onde se firmou como cantor e compositor.

Quem também participou da sessão foi João Sérgio dos Santos, um dos personagens da cena de motociclismo do documentário em homenagem ao pioneirismo do rock no município. “Convivi diretamente com o mais importante conjunto de rock do estado. Minha mãe Dona Albertina, exímia costureira, reproduziu o palitó sem gola dos Beatles, azul em tecido lamê, não lembro se esse é o nome, com debrum em preto, que fez tremendo sucesso. Os ensaios eram na casa do Romiques, vizinho e amigo, e era onde a turma se juntava, fora ensaio, para farrear. Foi bom! Reativei várias belas lembranças de meu passado”, relembra João Sérgio.

Durante as gravações de “Colatina, a Princesa do Rock”, João Sérgio descobriu que sua trajetória de vida esbarra nas duas histórias contadas pelos dois filmes lançados pelo Curta Vitória a Minas II nesta sexta-feira (07/07). “Eu estava trabalhando, com minha equipe e mais homens da Vale, na retirada dos trilhos. Na época, era Diretor do Escritório Técnico de Planejamento e Colatina passou pela maior transformação urbana de sua história, pois a retirada dos trilhos do centro da cidade disponibilizou grandes áreas livres, redirecionando a ocupação”, conta Sérgio que aplaudiu o resultado dos dois curtas-metragens e felicitou os diretores, os organizadores, operadores e participantes pelo projeto audiovisual.

A atmosfera festiva e acolhedora da sessão acalmou o coração do diretor Nilo Tardin. No decorrer da semana, o jornalista estava apreensivo com o lançamento do seu primeiro documentário em uma tela de cinema ao ar livre. “Foi uma noite divertida. O pessoal prestigiou e teve uma boa reação com o filme. Todo mundo gostou dos curtas e do formato do cinema na praça. Todos gostaram de ser ver no filme. Todos estavam atentos e concentrados. Ver o filme na tela é outra experiência. A pessoa se arruma e sai de casa para ir ao cinema, para apreciar aquele clima mais antigo, aquela magia. E o que mais chamou a minha atenção foi a quantidade de informações sobre a cidade e o rock que o filme trouxe, principalmente, para os mais jovens que têm essa veia roqueira na cidade. A exibição foi o troféu desta jornada que começou com o envio da história”, destaca Nilo.

Texto: Simony Leite Siqueira

Fotos: Patrícia Cortes

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