Família Constantino volta no tempo e se emociona com o cinema

Há mais de 50 anos, Zé Constantino e Maria Nogueira e seus oito filhos se preparavam para uma grande viagem de trem e de kombi para conhecer e desbravar o mar no verão capixaba. A aventura vivida nos anos 70 acaba de ser contada pela neta do casal, a arquiteta Ana Paula Gonçalves Pires, no filme “Mundaréu”. O conto inspirado em fatos reais brilhou na noite de cinema na rua do Curta Vitória a Minas III. A telona montada em frente à Prefeitura Municipal de Coronel Fabriciano para a estreia da obra atraiu mais de 450 espectadores.

A atmosfera de saudade e de celebração das memórias inundou a sessão. A exposição de carros antigos usados no filme recepcionou a plateia que, aos poucos, se espalhou por todos os espaços do cinema ao ar livre. Membros da família Constantino representados na obra ocupavam seus lugares com o coração cheio de expectativa para o reencontro com a própria história vivida ao lado do saudoso Zé Constantino. Mais de cinco décadas antes, o patriarca, personalidade muito conhecida na região, aproveitou a proposta de empreitada de carvão em Aracruz, no Espírito Santo, para levar toda a família para conhecer as águas salgadas e bravias da Barra do Riacho.  

A turma era composta por Maria das Graças (18 anos); José Daniel, o Zezé (17 anos); Vera (14 anos); Fátima (13 anos); Mário (12 anos); Maurício (11 anos); José Constantino, o Tantino (9 anos) e a Luciene, a Tuca (8 anos). Havia ainda a Renata, no ventre da mãe. Dona Maria e os filhos fariam a viagem de trem no mesmo dia em que Seu Zé Constantino sairia de Kombi com a maior parte da bagagem, os utensílios e os mantimentos necessários para a longa estadia na praia. Chegara a hora de recordar na tela os melhores momentos desta lembrança de família.

Para um dos personagens reais, o Tantino, o filme conseguiu sintetizar em poucos minutos a festa que era o passeio de trem rumo à praia. “O conjunto da obra é muito bonito! Mas, o que mexeu muito comigo foi o almoço lá em casa. O filme me relembrou as tantas e tantas vezes que nós estivemos reunidos ao redor desta mesa grande com papai e mamãe, principalmente, nos finais de semana, porque pai trabalhava de segunda a sexta na fazenda em Raul Soares. Ele fazia questão de reunir todos no almoço de sábado e, principalmente, no de domingo. Isso relembrou os momentos maravilhosos que tivemos à mesa, sempre com uma discussão ou uma conversa ou um aprendizado, mas sempre reunidos e aprendendo alguma coisa. Estou grato pelo filme que mostra a minha família e como o meu pai, mesmo sem estudos, esteve à frente do seu tempo, e com oito filhos até então, e depois nove, formou ao lado da minha mãe uma família sempre unida”, conta José Constantino.

A servidora pública federal Luciene Nogueira Gonçalves, a Tuca, tinha 7 anos na época da viagem em direção à praia. Ela se emocionou ao recordar um tempo cheio de alegria e ficou impressionada com o filme e a sessão de cinema ao ar livre. “Eu moro em Fabriciano há quase 60 anos e te confesso que foi a primeira vez que participei de um evento como este. Ver a história da nossa família retratando os melhores anos das nossas vidas foi muito emocionante. Me impactou muito. Como que, em 15 minutos, Ana Paula conseguiu retratar tão bem aqueles anos inesquecíveis. Os atores são ótimos. O ator que fez o meu pai atendeu o telefone do mesmo jeito que meu pai fazia, com o mesmo tom de voz. Eu fiquei muito emocionada, principalmente, com o profissionalismo. Tomara que estas produções possam chegar a todos os cantos do nosso país e que a Vale continue incentivando o povo a contar a sua história. Fiquei muito feliz”, destaca Luciene.

Mundaréu é uma homenagem a Zé Constantino, falecido há 17 anos. O patriarca é interpretado na ficção por Renan Barbosa Scarpati por causa da semelhança física com o protagonista. Ator, cantor, compositor e cozinheiro, Renan compôs seu papel inspirado pelas recordações guardadas pela diretora, a primeira neta, filha da Maria das Graças, a primeira filha de Zé Constantino e da Dona Maria. “Foi espetacular! Me surpreendi muito com o filme. Eu curti minha atuação, achei bacana. Acho que o pessoal curtiu também. Um sucesso pra nós, graças a Deus”, relata Renan.

Desde 2020, o estudante Lucas Carvalho Soares estuda teatro. Este ano, aos 13 de idade, ele teve sua primeira experiência no cinema ao interpretar o Mario, um dos filhos da família Constantino. “É a minha primeira atuação no cinema. A sensação que eu tive, não consigo explicar. Eu estava ao lado dos outros atores e atrizes e ficava lembrando aquele tempo em que passamos juntos na gravação. Foi muito lindo! Fiquei animado e curioso para saber como iria ficar. Eu adorei!”, relata Lucas.

Aos 29 anos, o ator Dalbert Vinícius dos Santos, interpretou o José Daniel, o Zezé, segundo filho mais velho da família, quando tinha 17 anos de idade. O ator se encantou com o resultado da obra. “Cada detalhe, cada segundo, cada cena. Foi muito bom! É curioso gravar de um jeito e imaginar como será editado e exibido na tela. Nós amamos e ficamos surpresos e emocionados porque a história é linda. O público adorou e lotou o estacionamento da prefeitura. E o curta foi aclamadíssimo. Eu amei a família Constantino que estava presente. A sessão foi maravilhosa!”, ressalta o artista.

Aos 89 anos de idade, Dona Maria se sentou diante da tela para recordar as memórias construídas ao lado do esposo e dos filhos. Quem a interpretou na ficção foi Camila Rodrigues Vaz Chaves. A atriz relata a riqueza do aprendizado proporcionado pelo projeto que transforma histórias em filmes. “Estou encantadíssima! O que mais me entusiasmou nesse primeiro contato com o filme pronto foi a montagem: como a edição costurou a história. A gente acompanhou a gravação e ficou com uma estrutura narrativa cronológica na cabeça, já no filme, as imagens se misturam, em uma lógica cinematográfica, permitindo a criação do espectador. Foi muito gostoso! A gente ia absorvendo aquela narrativa, montando as peças… Adorei a edição e também a finalização da obra”, destaca Camila.

Para a bacharel em teatro e mestre em Artes na Cena, o filme permite uma identificação dos mineiros com essa família e com essa história. “A emoção desta primeira ida ao mar é um tema recorrente aqui. O filme trouxe muitos elementos da nossa cultura mineira: a receptividade, a família calorosa, a preocupação com a alimentação, as receitas herdadas de diferentes culturas, a mesa farta, o compartilhar com o outro. A equipe toda adorou. Foi um sucesso, um entusiasmo só”, celebra a atriz.

Uma das preocupações da diretora era se o público se identificaria com um relato tão particular. “Como eu já tinha assistido várias vezes o filme, o melhor de tudo foi ver o público feliz, se identificando. Depois que passou, todo mundo contou que voltou à infância assistindo, que também tiveram esta vivência. Eu tinha uma preocupação: são tantas histórias para contar, mas decidi contar uma sobre a minha família, porém, na verdade, eu sempre soube que esta história toca as histórias de muitas famílias mineiras. E eu fiquei muito feliz com isso. Durante a sessão, fiquei olhando para os tios para ver a reação. Foi emocionante vê-los felizes assistindo ao curta. O filme ficou muito bonito: uma fotografia maravilhosa, uma dinâmica de modificação de cenas de um lado para o outro, a riqueza de detalhes, a trilha sonora linda. Fomos muito felizes no processo da montagem da obra. A gente sempre teve a ideia que o filme mostrasse o caos e a calmaria: o caos de uma família grande cheia de filhos numa viagem de trem e a calmaria do Vô Zé Constantino viajando pela estrada de kombi, todos em direção à praia. Fiquei muito feliz!”, comemora a diretora Ana Paula.

A nona noite de exibições contou com a presença de Luzia Di Resende, diretora de “O Pássaro”, autora desta terceira edição, que estreou ontem em Ipatinga; a participação de Patrícia de Araújo, diretora de “Um Olhar para a Maternidade”, de Coronel Fabriciano, e de Rita Bordone, diretora de “Santa Cruz”, de Ipatinga, ambas selecionadas na segunda edição; além da presença de Vitor Augusto de Oliveira, diretor de “Expedição Rio Doce”, de Periquito, selecionado na primeira edição.

Depois desta noite cheia de emoções, a caravana de cinema está pronta para a estreia de “Revelações de Carnaval”, da diretora Sandra Coelho, moradora de Nova Era. A sessão será realizada nesta sexta-feira (29/11), às 19h30, na Praça Juquinha Lima, no Morro do Padre, na penúltima exibição do Circuito do Curta Vitória a Minas III.

Texto: Simony Leite Siqueira

Fotos: Mariana de Lima

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