De volta à era dos antigos carnavais!

Com 321 anos de existência, Nova Era (MG), a terra dos casarões coloniais, das esmeraldas, das grandes fazendas e do patrimônio histórico e artístico nacional guarda também o coração da folia. O carnaval é um dos grandes amores da cidade e, ao longo das décadas, mudou de fantasia ao destacar um tipo diferente de festa a cada época. Esta explosão de alegria marcou a vida da turismóloga, Sandra Maura Coelho, que decidiu contar uma história cheia de confetes, purpurina, brincadeiras e muita irreverência.

As gravações de “Revelações de Carnaval”, uma das histórias selecionadas pelo Curta Vitória a Minas III para ser transformada em filme, começaram neste sábado (29/06) e prosseguirão até terça-feira (02/07). Baseada nas memórias da adolescência da autora, a história resgata a aventura vivida por ela e a amiga após decidirem pular o carnaval disfarçadas de Zé Bundão e Ana Rabo no tradicional Bloco “Boca de Gole”. Com fantasias improvisadas com lençóis, fronhas e travesseiros, as meninas saem pelas ruas pregando peças nos foliões sem serem reconhecidas e sem imaginarem que a grande revelação do dia estava a caminho.

De acordo com a diretora, o carnaval local foi marcado por diferentes estilos conforme o momento histórico-cultural da cidade. No início do século passado, havia o tradicional desfile de carros antigos. “Algumas pessoas me contaram de uma forma saudosa que, na década de 20, elas saíam todas enfeitadas, passavam batom, colocavam arcos na cabeça e cantavam marchinhas. Nova Era já tinha este gosto pelo carnaval”, relata Sandra.

As escolas de samba reinaram nas décadas de 70, 80 e 90, organizadas por bairros. A “Princesinha do Morro” do bairro Manjhay foi a primeira agremiação fundada na cidade. Os ritmistas comandavam as batucadas e as meninas sambavam pelas ruas do morro inspirados pela percursora e organizadora da festa, a saudosa Julieta. Tempos depois, a escola desceu o morro para atravessar a avenida e passou a se chamar “Acadêmicos do Manjhay”. Vieram ainda os “Acadêmicos da Sagrada Família” (Sagradão), do bairro Sagrada Família, os “Acadêmicos do Ladilá”, do bairro Centenário, e a “Escola Desce Ladeira”, do Centro.  

“Era uma época em que a gente se deliciava com a organização. A cidade ficava lotada, vinha pessoal de fora para participar da festa. O bairro inteiro de cada agremiação ou associação se envolvia com a temática, seus integrantes cantavam o enredo, cada ala tinha responsáveis para bordar as fantasias. Além de girar a economia, o evento dava muito prazer de fazer para os nova-erenses”, conta a diretora cujo amor pelo carnaval fora herdado da sua saudosa mãe, a Dona Neide, uma das colaboradoras da Escola Desce Ladeira.

Um dos momentos mágicos para a autora aconteceu na infância, numa época em que a menina apenas acompanhava da corda o desfile passar pela avenida. “Naquele ano, o samba-enredo da minha escola, a Desce Ladeira, era o circo. Eu me imaginava dentro daquela lona de circo que vinha fechadinha e, no meio da avenida, abria e revelava um monte de palhacinhos. Eu ainda sei cantar o samba-enredo: “Ôh, Ôh, Ôh, Ôh, Ôh, Ôh, a praça iluminada vem comigo, amor. Ôh, Ôh, Ôh, Ôh, Ôh, Ôh, vai lá criançada que o circo chegou. No picadeiro o faz de conta da folia, a fantasia resolveu representar. E nesse encanto, a minha Desce querida vai mostrar o povo com amor o show circense na avenida. O raio sol, suspende a lua, a alegria tomou conta desta rua”, relembra Sandra.

Após este período, o carnaval tomou novos contornos com o surgimento dos trios elétricos de axé music. Como reação a esta mudança, há 26 anos, um grupo de amigos criou um outro jeito de brincar os quatro dias trazendo a MPB como inspiração musical para a festa dos foliões. Hoje, algumas escolas se transformaram em blocos carnavalescos que percorrem as ruas animados por uma bateria. Os diferentes formatos tomam um espaço diferente e coexistem numa celebração da diversidade cultural.

“É tão incrível esta vivência de dirigir um filme, de envolver a comunidade, de contar um pouco da história da nossa cidade, de trazer um pouco da magia do cinema, de contar estas lembranças de uma forma leve e gostosa. A minha experiência está sendo fantástica ao lado desta equipe de gravação e nunca mais vou esquecer. Apesar dos desafios, ver a comunidade se envolver com a temática do filme está sendo muito gratificante”, festeja a diretora. Formada em Turismo pela PUC de Belo Horizonte (MG), Sandra Maura Coelho é diretora de Cultura e Turismo da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Social de Nova Era.

Texto: Simony Leite Siqueira

Fotos: Mariana de Lima

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