21 de novembro de 2024
Uma antiga desavença entre vizinhos dos tempos da imigração italiana por causa do limite entre suas terras ganhará a telona de cinema durante sessão gratuita ao ar livre. O curta-metragem “As Cercas”, do professor e policial federal Otávio Luiz Gusso Maioli, morador de Ibiraçu (ES), será lançado nesta sexta-feira (22) durante o Circuito de Exibição do Curta Vitória a Minas III, projeto que transforma em filmes histórias reais ou inventadas contadas por moradores do entorno da Estrada de Ferro. A sessão será realizada às 19h30, na Rua Daniel Comboni, em frente ao Mercado Municipal, em Ibiraçu (ES).
De 21 de novembro a 03 de dezembro, o caminhão-cinema equipado com uma estrutura com telona de 8×6 metros, projetores, sistema de sonorização e cadeiras para acomodar os espectadores percorrerá cidades capixabas e mineiras para exibir as obras de curta-metragem com roteiro, direção e produção das autoras e autores das histórias selecionadas. O Curta Vitória a Minas III tem patrocínio do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, apoio local da Prefeitura Municipal de Ibiraçu e realização do Instituto Marlin Azul, Ministério da Cultura/Governo Federal.
O objetivo é possibilitar aos moradores das cidades ao longo da Estrada de Ferro Vitória a Minas a oportunidade de contar histórias e transformar em filme, registrando as memórias, os costumes, os hábitos, as lendas e as peculiaridades destas localidades, contribuindo para o fortalecimento territorial e comunitário.
As Cercas
Há 150 anos desembarcava, no Porto de Vitória, o primeiro grupo de imigrantes vindos da Itália, marco oficial da chegada em massa do povo italiano ao Brasil. O ano era 1874 e as famílias a bordo do navio à vela “La Sofia” adentraram o lugar movidas pelo sonho de uma vida melhor. Os novos habitantes impulsionaram o desenvolvimento socioeconômico brasileiro nas áreas da agricultura, indústria e comércio e trouxeram contribuições para a cultura, a arte, a arquitetura, a gastronomia e para as relações sociais.
Inspirado pelas histórias ouvidas do avô Wilson Maioli, o autor resgatou as memórias das famílias de imigrantes que fundaram os primeiros núcleos de colonos italianos na cidade de Ibiraçu (ES) para criar uma ficção baseada em fragmentos de fatos reais. Falecido em 2012, aos 83 anos, Vô Wilson contava histórias sobre como viviam as antigas famílias dos seus antepassados que desembarcaram em terra brasileiras em busca de um recomeço. Eram relatos dos mais velhos, causos tirados do cotidiano das relações sociais, lembranças de um e de outro, memórias guardadas, esmaecidas pelo tempo, repassadas de geração em geração.
De um jeito cômico e envolvente, o filme aborda como duas famílias vizinhas produtoras de café, uma delas formada pelo casal Giácomo e Ilária, e a outra pelo casal Giuseppe (Beppe) e Domênica, reagiram a um conflito de fronteiras gerado por uma disputa de terras. Para transformar esta história em filme, o diretor contou com o intenso envolvimento dos moradores distribuídos em diferentes funções dentro da produção cinematográfica. A ideia do autor não era resgatar os acontecimentos. A intenção foi ficcionar uma história com elementos inspirados nas relações familiares e comunitárias, no jeito de ser e de viver das antigas comunidades que ajudaram a fundar o município.
“Quando veio a seleção da história, eu já fiquei super entusiasmado. Toda a construção desde o curso, a produção do roteiro, a gravação e a edição, é composta por etapas que vão desenhando este processo. Foi uma experiência fantástica, inesquecível, muito forte, me proporcionou diversas habilidades e virtudes, que eu até desconhecia, e trouxe desafios e dificuldades que me ensinaram a enfrentar este oceano novo da cinematografia. E contar uma história no âmbito das minhas relações familiares, particularmente, a partir da minha convivência com meu avô e com minha avó, retratar aqueles momentos, envolver parte da minha família e amigos próximos na gravação, tudo isso foi muito bom. Este projeto é muito grandioso, de um valor material e imaterial muito grande”, avalia Otávio Maioli.
Acompanhe a caravana de cinema
Depois de Colatina (21/11) e Ibiraçu (22/11), no Espírito Santo, a caravana pegará a estrada em direção a Conselheiro Pena (23/11), Periquito (24/11), Governador Valadares (25/11), Belo Oriente (26/11), Ipatinga (27/11), Coronel Fabriciano (28/11), Nova Era (29/11) e João Monlevade (03/12), em Minas Gerais. Em cada sessão, a comunidade assiste ao filme do lugar e a obras feitas por outros autores e autoras selecionados pelo projeto.
O Circuito de Exibição do Curta Vitória a Minas III reúne os curtas-metragens “As Cercas”, de Otávio Luiz Gusso Maioli, de Ibiraçu (ES); “A Casa Sinistra”, de Marisa de Almeida Silva, de Colatina (ES); “Um Rio de Histórias”, de Márcia Cristina Cândido Cruz, de Conselheiro Pena (MG); “Escasso”, de Pedro Vinícius Siqueira Batista, e “A Velha do Rio”, de Levi Braga de Souza, ambos de Governador Valadares (MG); “Boi Balaio”, de Mauro dos Santos Junior, de Belo Oriente (MG); “O Pássaro”, de Luzia Di Resende, de Ipatinga (MG); “Mundaréu”, de Ana Paula Gonçalves Pires, de Coronel Fabriciano (MG); “Revelações de Carnaval”, de Sandra Maura Coelho, de Nova Era (MG); e “Me Disseram que Sou Negra”, de Alexsandra Mara Felipe Fernandes, de João Monlevade (MG).
