Mais do que mostrar o cotidiano da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Ibiraçu (Ascomçu), o documentário “Reciclando Vidas e Sonhos” resgatará vivências das associadas. Com roteiro, produção e direção de Ana Paula D. C Imberti, a história de uma entidade criada para colocar em prática a Política de Resíduos Sólidos no município reúne também relatos de superação e valorização da autoestima das trabalhadoras.
Criada dentro de uma educação rígida, Regina Mattiuzzi morou na roça na infância e ajudou a cuidar dos irmãos. Eram duas mulheres e quatro homens, totalizando seis irmãos. Aos 13 anos de idade já trabalhava fora de casa. Pra dar conta da lida trabalhava de dia e estudava na parte da noite. Casou-se aos 17 anos, ficou viúva aos 23 e criou sozinha os dois filhos. A entrada na associação transformou sua vida, pois ocupou seu tempo, fez com que não se sentisse sozinha e a tornou mais comunicativa. “Tenho orgulho do que eu sou hoje. Sou feliz no que faço e sou uma pessoa realizada”, relata Regina, que tem dois filhos e quatro netos.
Edna Santos Lima chegou ao município no ano de 2014. Ingressou na Ascomçu em 2017. Ela participa do processo de coleta, triagem e também exerce funções na tesouraria. A associada sente amor em trabalhar na instituição. “Quando a gente pega o hábito de reciclar, não quer mais parar”, declara a coletora, mãe de três filhos.
De acordo com Ana Paula, cada família que vive ou viveu o dia-a-dia da entidade tem uma história, um processo e um projeto de vida e todos os envolvidos percebem o valor deste trabalho para suas próprias existências, para a cidade e a população. “Quando eu era mais jovem, não tinha muito essa habilidade de falar. Eu era muito fechada. Se a pessoa me perguntasse, eu falava. Desde a fundação da associação, sempre ajudei na parte de gestão, mas não era presidente, eu não queria ser. Eu pensava que não era pra mim”, lembra a diretora que superou os desafios e, hoje, preside a instituição e também é uma das personagens do documentário.
A oportunidade de ter a história selecionada, transformar em roteiro, fazer a produção e, depois, dirigir o curta empolgou Ana Paula, mãe da Thalia, de dez anos. “Primeiramente, a gente vê Deus agindo mesmo. É gratificante ver a transformação na nossa na vida, na vida delas e na de quem passou pela associação. As meninas se empenharam em participar do documentário, ficaram bem entrosadas com a equipe de gravação. Vejo a importância deste trabalho em conjunto, em equipe. O curta uniu mais as meninas e os meninos e veio para somar ao trabalho da instituição”, avalia.
As filmagens aconteceram entre os dias 24 e 27 de janeiro. A diretora lembrou como o processo de formação das oficinas audiovisuais do Curta Vitória a Minas II, ao lado dos professores e dos demais autores, a preparou para as etapas de pré-produção, produção e de gravações. “Todo o aprendizado do curso foi excelente! Se não tivesse todo esse incentivo à cultura não teríamos estes dez autores e estas dez histórias. Eu fico feliz por ver esta história sendo contada e gravada para ser vista pela comunidade local e por outros lugares”, celebra Ana Paula.
O Curta Vitória a Minas II é patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, e conta com a realização do Instituto Marlin Azul, Ministério da Cultura/Governo Federal.
Texto: Simony Leite Siqueira
Fotos: Gustavo Louzada
