“Dezinha e sua Saga”, que tem roteiro, produção e direção de Luciene Crepalde, entrou no segundo dia de gravação neste sábado (21/01). A menina de sete anos, hoje com 41 anos, mergulhou no passado para resgatar uma das aventuras mais remotas da infância, o passeio com os pais numa mesma bicicleta até o centro da cidade.
O primeiro dia de filmagem acalmou a ansiedade e afinou o entrosamento entre elenco, a equipe local e os profissionais da produção, da fotografia e do som. Ao final da tarde de sexta-feira (20/01), uma tromba de água caiu sobre a cidade, depois estiou noite adentro. A chuva voltou antes do amanhecer de sábado, dia escolhido pra gravação das cenas na feira livre.
“Na sexta-feira levantei cedinho e a primeira coisa que eu fiz foi desenhar um sol grande no meio do terreiro, usando um pedaço de carvão, pra não chover. E não choveu! Mas, neste segundo dia, já amanheceu chovendo, e a chuva não deu trégua quase hora nenhuma. A equipe até brincou dizendo que não desenhei o sol direito desta vez”, brinca Dezinha em relação a uma antiga simpatia para chamar o brilho do sol.
Embora a chuva ficasse à espreita e ressurgisse de tempos em tempos, o sábado (21/01) foi dia de gravar novas cenas. “Está dando tudo certo. A Ione, que emprestou a casa, é muito gente boa e nos acolheu muito bem. O elenco está se divertindo, parece profissional. Nós saímos de casa cedo e voltamos só à noite e todos estão fazendo de coração, dando o melhor deles. Toda cena que faz, repete mais de dez vezes. Se eles não desistiram até agora, não vão desistir mais não”, relata a diretora.
O set de filmagem vem trazendo uma vivência inédita para a mineira. “Estou praticando tudo o que foi ensinado nas oficinas audiovisuais. Fizemos cenas de perto, cenas de longe, só das mãos. Fizemos cenas do movimento das rodas da bicicleta e também gravamos apenas o barulho da roda da bicicleta”, exemplifica Dezinha.
O segundo dia também foi marcado pela gravação da canção “Rocha Nebulosa”, composta especialmente pelo sanfoneiro Eliomar Siqueira para integrar a trilha musical da ficção. A gravação aconteceu na antiga Fazenda da Vargem, construída em 1837, ponto turístico da cidade, espaço utilizado para lazer e para atividades educativas, aberto à visitação de terça a domingo.
A diretora e suas memórias
No período da inscrição do Curta Vitória a Minas II, a autora teve dificuldades para escolher uma história dentre tantas memórias. A solução foi voltar nas primeiras lembranças vividas ao lado da família na roça. Ela lembra que os irmãos ajudavam nas atividades domésticas, brincavam e aprontavam bastante. As dificuldades e os poucos recursos da época não apagavam alegria e a inventividade das crianças que aproveitavam pra brincar até na hora de dormir.
“Só havia dois quartos na casa. O quarto de mamãe mais papai e o quarto das crianças. E no nosso quarto só tinha uma cama, que não era comprada, não tinha o tamanho padrão. Era um pouco maior. Dormia três pra baixo e três pra cima. O outro irmão dormia com papai mais mamãe porque era o mais novo, com certeza, mamava ainda. A gente era magrinho e brincava a noite inteira de bicicleta envenenada. Cada um encaixava o pé no outro e nós íamos pedalando e cantando: “Bicicleta envenenada, pega fogo e não derrete”. À medida que acelerava com os pés, acelerava a música. Se alguém errasse, destruía a bicicleta e perdia a brincadeira”, relembra.
Dezinha cresceu, se casou com o Claudinei, teve dois filhos, a Noelhia e o Juninho. Foi aprovada no concurso pra auxiliar de serviços gerais e, atualmente, trabalha como servidora pública Prefeitura Municipal de Nova Era. Hoje seu sonho é ter saúde e muitos anos de vida para acompanhar bem perto o crescimento das netas Manoela, de quatro anos, Helena, de dois anos, filhas da Noelhia, e a recém-nascida de poucos dias, Ana Liz, filha do Juninho. As gravações de “Dezinha e sua Saga” prosseguem neste domingo (22/01).
Texto: Simony Leite Siqueira
Fotos: Gustavo Louzada