Audiovisual: cem por cento imagem e cem por cento som

As folhas farfalham junto com o ranger dos galhos das árvores na pequena mata. Os pássaros piam, cada espécie com seu timbre singular. Alguns entoam canções inteiras que se repetem como em um ensaio. Sapos, peixes e insetos anunciam o conjunto de sons vindos do brejo. De tempos em tempos, os ruídos de passos no chão de madeira, o tilintar das xícaras e uma diversidade de vozes humanas compõem a paisagem sonora do lugar escolhido para acolher os dez autores do Curta Vitória a Minas II.

O ambiente sonoro da pacata e bucólica Vila de Santa Cruz, em Aracruz (ES), aguçou ainda mais os sentidos da turma que, além de descobrir novos olhares, se deparou com o desafio de criar novas escutas. Construir uma obra cinematográfica passa pela percepção do som ao redor.

Vibração

A imagem se limita ao quadro. O som ultrapassa o campo visual da tela. “Um filme é cem por cento imagem e cem por cento som. Um não funciona sem o outro. O áudio não só complementa a imagem, mas traz profundidade, ampliações, textura, peso, atmosfera, compondo com a imagem uma dança. O som atravessa o ar e encosta na pele do nosso corpo, causa sensações muito rápidas que, às vezes, nem sabemos explicar o que é, mas sentimos”, explica Guile Martins, pesquisador e artista da matéria sonora, professor de som, que vem orientando os autores na descoberta dos sons.

Não são somente os diálogos e a música que integram a trilha sonora de uma obra audiovisual. Ali também estão os silêncios e um complexo conjunto de ruídos. De acordo com o professor, a escrita sonora começa durante a elaboração do roteiro, pois o som traz dramaticidade para a história. “Para trazer essa dimensão sonora, é necessário perceber como o som age, nos afeta e como reagimos a ele na nossa vida cotidiana. E, depois, transpor esse pensamento sonoro para os roteiros”, orienta o professor.

Para além da imagem

Um dos cuidados nesta costura cinematográfica é desvendar o que o som pode contar que a imagem não esteja mostrando na tela. “Podemos visualizar uma estrada vazia, por exemplo, na imagem, mas escutar um comboio cigano passando, com o som das rodas das charretes e dos cavalos. Isso vai trazer uma outra leitura. Como o som pode transformar de alguma maneira a leitura que temos da imagem, seja pra dar mais peso, seja pra trazer um sentimento de alívio ou de contradição. Podemos criar tensões entre o que se vê e o que se ouve para levar o espectador também a pensar e a buscar um outro sentido”, explica Guile.

O pesquisador conta como o som pode até transpor algumas limitações. “Costumamos pensar demais na tentativa de encontrar uma imagem, uma palavra ou um diálogo para contar uma história. Mas, às vezes, não é a imagem nem diálogo. É essencial pensar o som como recurso. Precisamos explorar toda a amplitude da possibilidade do audiovisual enquanto linguagem, seja imagem, som, montagem, silêncio, pausa, ritmo, tudo o que o cinema tem a nos oferecer”, reflete o professor.

Processo permanente

Quando perguntado no primeiro dia da imersão sobre qual era a primeira imagem que vinha à mente ao escrever a sua história, o educador ambiental Luan Ériclis Damázio da Silva respondeu “tibum”, o som de um mergulho dentro da água.

“O som é fundamental para transmitir a mensagem do filme porque se completa junto com o visual. Apesar de estar bem centrado no que quero construir, o que quero apresentar, o que quero entregar com a minha obra, o curso continua sendo um processo de descoberta. Essa semana, abri o meu roteiro e ouvi qual o som determinada cena ainda está me contando. Isso foi espetacular”, celebra o autor da ficção “O T-Rex e a Pedra Lascada”, morador de João Neiva (ES).  

Texto: Simony Leite Siqueira

Fotos: Gustavo Louzada

Exercício prático da aula de som/edição – CVM II

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