A direção de arte e a redescoberta do olhar

Um filme é uma obra de arte pintada por muitas mãos. Um dos profissionais responsáveis pela concepção visual em cada detalhe do cenário, do figurino, da maquiagem e dos objetos de cena é o diretor de arte, um intérprete do desejo do roteirista e do diretor. Escolher a linguagem e o estilo visual de uma obra passa por uma jornada em busca da alma do filme.

Durante a imersão dentro do universo cinematográfico, os autores das dez histórias selecionadas pelo Curta Vitória a Minas II foram provocados a descobrir quais elementos visuais traduzem as ideias e sentimentos dos curtas-metragens que estão construindo. “A direção de arte pode trabalhar no terreno da emoção, não exatamente na tensão e na importância de representar um real, e sim, de criar algum tipo de sensação. Criar relações com os espaços, com as texturas, com os volumes, com as cores. Criar rimas poéticas com esses elementos. Acho que a arte pode trazer mais significado às coisas que faz”, avalia a diretora de arte, Ana Paula Cardoso, professora convidada para orientar o processo de desenvolvimento dos projetos de arte das histórias contadas pelos autores.

Para Ana, formada cenógrafa pela Escola de Belas Artes, um dos caminhos desta construção é se distanciar da tendência natural de fazer uma representação, uma retratação e uma demonstração do real, e buscar um diálogo com possibilidades mais subjetivas, mais afetivas e com conexões mais poéticas, acessando outras forças e outros pertencimentos.

Apesar da evolução dos equipamentos e do desenvolvimento da linguagem no decorrer da história do cinema, demandando um conjunto de profissionais cada vez mais diversificados e especializados, o ponto de partida para criação do projeto de arte de um filme nasce na leitura do roteiro, na conversa com a direção e em uma profunda pesquisa de referências.

Segundo a diretora, as combinações, as conexões entre vários elementos e estímulos trazem novas possibilidades do olhar. “O campo é tão vasto pra o trabalho e cada filme pede algum tipo de abordagem, algum tipo de pesquisa. Tem filmes mais realistas com o campo do subjetivo muito restrito. Outros são muito abertos a trazer novas possibilidades. Este é o terreno onde a arte habita, onde a direção de arte trabalha, e não em estar preocupada em retratar ambientes que a gente já conhece”, aprofunda Ana Paula.

Os projetos selecionados pelo Curta Vitória a Minas II guardam uma característica em comum: os autores buscaram as histórias no interior de suas memórias. “Como recontar estas histórias sem representar? Por que estas histórias foram eleitas por eles para serem recontadas? Há um lugar do afeto. Como eles podem se mobilizar pra um outro espaço, pra um outro lugar de significação? São histórias que eles viveram. Hoje, eles vêm diferente. De que forma, hoje, eles podem ter uma leitura de uma memória e podem projetar uma nova leitura”, reflete Ana Paula.

Após as aulas, um novo mundo de experimentações se abriu para a artista visual, Rita de Cacia Bordone, moradora de Ipatinga (MG), autora selecionada com a história “Santa Cruz”. “É uma outra forma de ver a composição de um filme. É pensar nas cores, na paleta de cores da sequência, do início, meio e fim, como que as cores vão contribuindo para criar um clima, pra tensionar e até mesmo levar a um final que a gente quer. Essa cor do filme, que eu desconhecia e que, às vezes, me encantava, me colocava muito dentro de um filme, hoje, eu vi como que é feito”, conta a mineira.

Texto: Simony Leite Siqueira

Fotos: Gustavo Louzada

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