Certa vez numa roda de contação de histórias, as rainhas do Condado da Lua resgataram uma antiga lenda sobre o espírito dos grandes dinossauros adormecido nas raízes de uma gameleira. Para despertá-lo e ganhar poderes transcendentais bastava encontrar uma pedra lapidada naturalmente no leito do rio que encaixasse perfeitamente no olho direito da divindade. As pequenas Ganga, Tule e Dara se juntaram para realizar os desígnios da lenda.
O segundo dia de gravação da ficção “O T-Rex e a Pedra Lascada” vivido no sábado (18/03), na zona rural de João Neiva (ES), convocou a equipe de direção, produção, captação de imagens e som para uma grande aventura no meio da mata e do rio. Um dos primeiros desafios era coordenar as ações de um elenco infantil em sua primeira experiência de atuação. Selecionadas dentro do núcleo familiar do diretor, as personagens Ganga, Tule e Dara são interpretadas, respectivamente, pela prima Luna Vitória, de 6 anos, a afilhada Fernanda Vitória, de 7 anos, e a sobrinha Maitê Batista, de 6 anos.
“Antes de iniciar a gravação, conversei com as meninas sobre o contexto imaginativo do filme e de cada cena e expliquei que podiam mergulhar naquele universo em que elas não eram mais elas, mas personagens do Condado da Lua, numa história sobre um espírito muito bom da natureza. Eu tive um diálogo extenso com as crianças para que se sentissem parte da cena e do processo. Funcionou porque adotamos esse método de chamá-las pelos nomes das personagens Ganga, Tule e Dara. Isso foi bem bacana, pois estabeleceu essa comunicação que as fizeram assimilar as personagens que estão representando”, conta o diretor Luan Ériclis.
A tarefa de cada uma das jovens atrizes de interpretar uma personagem no cinema pela primeira vez se misturou a desafios trazidos pela cenário natural. Numa das cenas, as meninas estão reunidas sob a gameleira, às margens do Rio Piraqueaçu. A câmera, a diretora de fotografia, Ana Rezende, e o diretor, Luan Ériclis, se posicionaram do outro lado do rio para captação do quadro. Ou seja, elenco e câmera estavam separados pelas corredeiras do rio.
Foi necessário montar uma estratégia de comunicação, como um telefone sem fio, para comandar o início e o fim de cada take de gravação. O diretor dava o comando para um produtor próximo que repetia a orientação para outro produtor escondido atrás de uma árvore. Este mensageiro, finalmente, repassava o comando para a ação das meninas. Algumas vezes, o diretor precisou atravessar o rio para explicar para as pequenas atrizes o que funcionou e o que não funcionou no take.
“O set de filmagem é um exercício de persistência, paciência e de luta para conseguirmos alcançar o melhor de cada um. No roteiro, eu imaginei trinta segundos para duração de uma cena, mas, na prática, pra fazer esses trinta segundos funcionar, hoje, neste segundo dia de gravação, foram quase cinco horas de filmagem. É cansativo? Muito! Mas vale a pena!”, conta Luan. Aos poucos, após muitas idas e vindas, acertos e acertos, como uma pedra em seu processo constante e consistente de lapidação, como costuma ser um set de filmagem, a cena foi concluída.
“Depois de muito tempo fazendo, repetindo, acertando, as meninas começaram a entender o processo e a pegar o ritmo. Eu sinto que o filme provoca essa autopercepção neste elenco sem uma experiência técnica e profissional. É um caminho para a percepção das potencialidades”, analisa Luan.
“T-Rex e a Pedra Lascada”, à primeira vista, traz uma história de fantasia e aventura sobre uma divindade dotada do poder de conceder poderes. No entanto, a magia e o encantamento são apenas um jeito poético e lúdico de tocar a realidade das coisas que se deseja despertar com o curta-metragem. A obra é uma jornada interior em busca das raízes, das riquezas e dos valores guardados pela ancestralidade.
Um outro desafio deste segundo dia de gravação veio com a bênção das chuvas. A produção providenciou barracas, sombrinhas, lonas e cadeiras para compor uma base legal para que as atrizes e demais participantes não se molhassem e não gripassem e para proteger os equipamentos. “Quando visualizei meu filme, em momento nenhum, imaginei esse ciclo da água, esse ciclo da chuva que vai nutrindo esse ambiente pra que ele fique saudável. O set estava bem molhado e encharcado neste segundo dia de gravação, o que exigiu da equipe um esforço para acomodar da melhor forma todos os envolvidos na construção do filme”, conta Luan. Ao final, equipe e elenco estavam mais alinhados, entrosados e animados para os desafios.
As filmagens continuaram neste domingo (19/03) com novas descobertas e aprendizados. Mas esse é um assunto para o próximo relato deste diário de bordo do Curta Vitória a Minas II. “O T-Rex e a Pedra Lascada” é o oitavo filme a ser gravado pelo projeto nesta segunda edição.
Texto: Simony Leite Siqueira
Fotos: Gustavo Louzada