Vamos pro rock, galera!!

Chegou a hora de “ir pro rock”! Começaram nesta quarta-feira (29/03) as filmagens do documentário “Colatina, a Princesa do Rock”, do jornalista Nilo Tardin. Depois de filmar nove curtas-metragens, passando por Ibiraçu, João Neiva, Baixo Guandu, no Espírito Santo, e por Nova Era, Naque, Ipatinga, Coronel Fabriciano e Aimorés, o projeto retorna a Colatina para encerrar a temporada de gravações da segunda edição. Desta vez, o projeto gravará o filme sobre o pioneirismo da cidade no surgimento do rock and roll em terras capixabas.

Colatina guarda lembranças como as festas nas domingueiras do Iate Clube, as noites no LiverPub – casa de shows inspirada nos Beatles, a Rádio Clube do Rock (87.9) – a única emissora capixaba que toca rock 24 horas, a visita de grandes nomes do rock brasileiro, os festivais de rock, as reuniões nas casas dos amigos para escutar os lançamentos em vinil. A história é uma homenagem aos momentos marcantes e aos representantes do rock colatinense deste período e celebra a contribuição do ritmo na formação de uma geração barulhenta, contestadora e rebelde. Uma turma afiada de roqueiros se juntará na cidade por esses dias pra relembrar a revolução de costumes e comportamentos provocada pelos Jet Boys, considerada uma das primeiras bandas de rock do estado, formada em meados dos anos 60, e como essa ousadia influenciou as gerações locais nos últimos 50 anos.

A preparação para as gravações começou em setembro na oficina audiovisual que reuniu os dez autores de histórias selecionadas pelo projeto na pequena vila de Santa Cruz, em Aracruz, no Espírito Santo. O intensivo de estudos audiovisuais, com o acompanhamento de profissionais de cinema no decorrer de 15 dias, ampliou os caminhos de conhecimento do jornalista acostumado com o universo das técnicas de produção de notícias. Há alguns anos, Nilo havia se aventurado na construção de roteiro, na direção e no manuseio de uma câmera ao documentar em vídeo um grupo de ambientalistas durante uma ação preservacionista na descida do Rio Doce.

“Eu participei de documentários jornalísticos, mas esta é a minha primeira experiência com a linguagem do cinema, com os planos, os enquadramentos, com esta dinâmica completamente diferente e mais elaborada de construção de um filme. Não é como pegar uma câmera na mão e sair pela rua para fazer uma matéria jornalística. É uma experiência desafiadora”, relata o diretor.  Ao mesmo tempo, as técnicas de abordagem jornalística o ajudaram na hora de buscar, envolver e convencer os personagens a participarem do filme. Como o autor também é uma testemunha daquele momento histórico, a proximidade com muitos personagens também contribuiu com o engajamento da turma para as filmagens.

A pré-produção envolveu visitas diárias, centenas de telefonemas, conversas pessoais e muita troca de informação para organizar a grande pauta do filme. Ao todo, o elenco reúne 17 personagens, alguns deles, vindos de outras cidades e até de outros países para participar da obra. Gilson Martins, fundador da Jet Boys, veio de Paris, na França, aonde mora e se dedica à música. De acordo com o diretor, as pessoas se empolgaram com a oportunidade de participar de um filme, em especial, porque se veem na história e poderão falar sobre suas vivências e memórias. “Isso pra mim foi muito interessante porque participei de todo esse processo. Estou nele e eles estão no processo. Criou aquele clima de identidade entre todos com o filme”, conta o diretor.

Embora o plano de filmagem esteja encaminhado, Nilo confessa ter sentido um frio na barriga nos últimos dias porque um set de filmagem pode sofrer imprevistos, inesperados e até mudanças climáticas. Mesmo assim, enfatiza o diretor, prevalece a confiança, a motivação e a segurança de quem conduz uma grande reportagem com planejamento e dedicação. E não faltam prognósticos para a estreia ainda este ano. “Quem assistir ao filme em Colatina vai se reconhecer e ainda reconhecer a época em que viveu. As pessoas vão entender como o ritmo acelerado, a batida do rock, entrou na vida do colatinense, ajudou a formar a identidade local, pelo menos, de uma parcela desta geração. Quero mostrar como, principalmente, nos bares, nas matinês, houve uma preferência por esse ritmo que embalou a juventude e foi pioneiro na cidade e no estado”, declara o jornalista.

A Festa do Cafona

O primeiro personagem a participar das gravações é Bambam Negrelli, criador do Studio Young, nome em homenagem ao guitarrista Angus Young, compositor e co-fundador da banda de hard rock AC/DC. Uma das criações do grupo cultural é a Festa do Cafona, um dos eventos mais antigos e bem sucedidos do estado. A ideia surgiu, em 1988, quando Bambam reuniu 17 pessoas no quintal da sua casa, no bairro Maria das Graças. No ano seguinte, a festa juntou mais de 30 pessoas e o local ficou pequeno para o público. De 1990 até 1993, o evento aconteceu no Clube da Vale do Rio Doce. Nos anos seguintes, até 2003, a festa se ancorou em um novo espaço, o Clube Itajubi.

Mais de 10 mil pessoas se reuniram pra celebrar a festa, no ano de 2004, no centro de Colatina, contando, inclusive, com carreata pelas ruas. As roupas bregas pomposas e extravagantes se tornaram a marca dos frequentadores. Em quatro décadas de história, a Festa do Cafona trouxe atrações marcantes do rock e de outros ritmos de sucesso nacional.  Entres eles estão Uns e Outros, Zero, Ojeriza, Ira, Blitz, Ritchie, Rádio Táxi, João Penca, Kid Vinil, Polegar, Biquíni Cavadão, RPM, Dr. Silvana, Paquitas, Trem da Alegria, Dominó, Sidney Magal, Odair José, The Fevers, Wanderléa, Double You, Elke Maravilha, Perla, Gretchen, Falcão e Reginaldo Rossi.

“A Festa do Cafona tem tudo a ver com o rock porque faz referência a um rock dos anos 60, 70 até a década de 80, quando surgiram as maiores bandas do rock nacional. Trouxemos muitos deles para Festa do Cafona que tem tudo a ver com o rock, mas em uma outra vertente, destacando um rock mais melancólico. Gostei muito de participar das filmagens, foi muito gratificante para o Studio Young que completou 40 anos de fundação”, declara Bambam. As gravações do documentário “Colatina, a Princesa do Rock” continuam até domingo (02/04).

Conheça o diretor um pouco mais

Nilo José Rezende Tardin nasceu em 02 de setembro de 1955 em Bom Jesus do Itabapoana, no Rio de Janeiro. Com um ano de idade embarcou junto com os pais em uma caminhonete acompanhando o caminhão de mudanças com destino a Colatina, um dos maiores produtores de café do mundo na década 50, aonde sua família se firmou no ramo do comércio. Aprendeu a ler debruçado sobre as revistinhas em quadrinhos antes mesmo de ir para escola. A curiosidade, o gosto e o hábito da leitura moldaram sua paixão por escrever direcionando-o ao Jornalismo.

Como repórter vivenciou as grandes transformações tecnológicas e culturais da indústria da notícia desde a utilização do linotipo – um equipamento que compõe e funde linhas de texto para impressão no sistema tipográfico – até o impacto do computador e da internet no mundo da comunicação.

Por causa da motivação e o talento para a pesquisa e a investigação, Nilo se dedicou à elaboração de matérias sobre acontecimentos marcantes da história do ES, tendo diversas reportagens selecionadas pela Biblioteca Digital do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN). É defensor da preservação da memória e do patrimônio histórico, cultural e ambiental e integra a Associação Colatinense de Defesa Ecológica (Acade). Aposentado, o jornalista criou e mantém em funcionamento o Diário Digital Capixaba (Portal DDC), um site com notícias de todo o estado.

Texto: Simony Leite Siqueira

Fotos: Gustavo Louzada e Patricia Cortes

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