A primeira vez que entrei no mar

Após aulas intensas e reveladoras sobre a linguagem e as técnicas do cinema, as autoras e autores das histórias selecionadas pelo Curta Vitória a Minas III se reuniram no domingo (21/04) para uma tarde de folga bem pertinho da praia. Desde o dia 13 de abril, os participantes estão reunidos no alto do Morro da Bica, em Perocão, Guarapari (ES), onde avistam o mar abraçando o horizonte. O passeio começou em Meaípe com uma moqueca capixaba e bobó de camarão servidos para o grupo numa mesa comprida, celebrando o espírito de integração, amizade e conexão da primeira semana de imersão nos estudos sobre o fazer audiovisual.

Os participantes vêm de cidades interioranas distantes da praia. O passeio reativou lembranças das viagens de férias de verão com as famílias e com os amigos. Para a moradora de João Monlevade (MG), Alexsandra Mara Felipe Fernandes, autora da história “Me disseram que Sou Negra”, o passeio quebrou um estranhamento de quem viveu toda uma vida sem conhecer o mar. “Eu não esperava que isso aconteceria comigo aos 51 anos de idade porque eu tinha certeza que não gostava de mar. Eu tinha medo e achava assustador aquele monte de água. Mas o que senti não tem palavras. Eu vi aquele trem enorme que não acabava mais. Comecei a ficar muito nervosa, estava tremendo e muito ansiosa”, conta a mineira.

Aos poucos, o encantamento afastou o espanto provocado pelos mistérios do oceano. Acompanhada de diferentes mulheres da turma, Alexsandra ressignificou tudo. “Todas as mulheres me acolheram. Eu estava com medo, mas eu também estava segura com estas mulheres ao meu redor. Eu pedi licença para Iemanjá e fui entrando devagarinho. Eu chorei, sorri e gritei: eu amo o mar”, relata a autora.

Depois do almoço em Meaípe, a turma se deslocou até o centro de Guarapari, caminhou pelas ruas da cidade, com a lua quase cheia despontando no meio da tarde, e se juntou para conversar em uma pracinha próxima à Praia das Castanheiras. E aquelas imagens e sons da primeira vez no mar ainda inundavam o dia.

“Foi a primeira vez que ela, segurando na mão das companheiras que já conheciam um pouco a água e a força do mar, tomou coragem de entrar. Nestes dias, a gente vive muitas coisas inéditas, parece que é muita novidade, muita coisa vivida pela primeira vez e essa foi mais uma delas: ver o rosto da Alexsandra olhando o rosto do mar e entrando nele”, conta a professora de cinema de grupo, Mariana de Lima.

Texto: Simony Leite Siqueira

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