A fotografia para o cinema combina a arte e a técnica de captar imagens para se contar uma história. Os autores e autoras selecionados pelo Concurso de Histórias do Curta Vitória a Minas IV, reunidos no curso audiovisual, em Vitória (ES), estão descobrindo como criar a narrativa visual dos seus filmes.
Um dos professores responsáveis por orientar os participantes durante a oficina é o fotógrafo Tomás Camargo. Para o realizador, o trabalho audiovisual começa com a questão: o que se quer contar com esta história? As decisões são tomadas por quem está pensando a luz e os planos, que pode ser o diretor ou o fotógrafo, ou os dois através do diálogo e do trabalho conjunto. O que se quer comunicar ou o sentimento que se pretende provocar no espectador é o fio condutor para as escolhas da cinematografia: o enquadramento, as câmeras e lentes, a iluminação, os movimentos de câmera, as cores, entre outros, elementos.
Segundo Tomás, um dos primeiros conceitos importantes é o enquadramento. “O que vamos enquadrar em cada plano tem uma importância muito grande porque é um recorte da realidade, porém, o que está dentro deste quadro está sempre se relacionando com o que está fora. Num cinema mais complexo, mais profundo, esta “brincadeira” acontece várias vezes”, pontua o especialista.
De acordo com ele, a escolha da lente, um outro elemento, leva o espectador para a experimentação de sensações, por exemplo, de um ambiente maior, ou menor, de um ambiente mais acolhedor, ou mais estressado. Da mesma forma, cada movimento de câmera tem uma intenção, pode deixar quem assiste mais tenso, ou mais calmo, ou ainda mais introspectivo, por exemplo. Estas escolhas envolvem ainda os contrastes de luz e a relação entre as cores. Estabelecer estas relações requer desprendimento da linguagem escrita para um mergulho profundo em outra forma de expressão, a audiovisual. Tal exercício exige conhecimento, planejamento, como a decupagem dos planos, mas também envolve atenção e sensibilidade diante do inesperado.
“No começo, você tenta escrever literalmente com imagem o que tinha imaginado através da palavra, do pensamento ou da escrita. E, dentro deste desafio, é admirável a capacidade de um diretor de observar algo que não estava imaginando, por exemplo, um pássaro que atravessou o plano, um figurante que não era pra passar e passou, ou um gesto imprevisto do ator. O diretor, o fotógrafo, o técnico de som, todos os envolvidos no fazer cinema, se estão conectados, podem também enxergar soluções e possibilidades reveladas pelo inesperado”, observa o fotógrafo.
Para Tomás, quem decide fazer um filme deve se libertar da pressão interna de contar a história tal como ela foi estruturada na linguagem escrita para ocupar o lugar da criação humana. Os dias de imersão dentro do curso audiovisual têm provocado as autores e autores neste caminho, o da liberdade criativa.
“O set é um lugar da experiência viva. A maioria das histórias são relatos vividos por eles. Estou dando um pouquinho da minha experiência audiovisual, mas recebendo muito a vivência de todo mundo. E ver o brilho nos olhos destes novos cineastas nascendo é muito bonito, é muito gratificante. A ideia não era ensinar audiovisual, mas capturar e trazer para o set o que já têm de cinematográfico dentro de cada um deles. Aqui temos a oportunidade de alimentar o autor de cada um e temos as ferramentas para se fazer isso”, conta Tomás Camargo.
Texto: Simony Leite Siqueira
Fotos: Mariana de Lima

