A alegria da noite de terça-feira (03/12) ainda explode no coração de Alexsandra Felipe. Filha da dona de casa Lourdes Saturnino Felipe e do torneiro mecânico e fresador José Basílio Felipe, a gestora de projetos tem a sua história de vida transformada em filme para ganhar o mundo. Inspirado em suas memórias, “Me Disseram que Sou Negra” emocionou a plateia de cerca de 300 espectadores que lotou o Sindicato dos Metalúrgicos de João Monlevade na última sessão do Circuito de Exibição do Curta Vitória a Minas III.
O filme resgata as lembranças da menina tímida atacada por atitudes racistas e preconceituosas no ambiente escolar durante a infância. As pessoas faziam comentários indelicados, agressivos em relação aos seus cabelos, deixando-a envergonhada e com medo de interagir com os outros, por isso, Alexsandra pedia a mãe que escondesse o seu cabelo e a tornasse invisível.
Três atrizes a interpretam em três diferentes fases da vida. Giovanna Danielle dos Santos Gonçalves, Ana Alice Sérgio Rosa e Bárbara Cristina da Silva Vicente viveram a protagonista, respectivamente, aos 9, 13 e 17 anos. O elenco e seus familiares e amigos se encantaram com a estreia.
“Foi muito emocionante! Quando estamos gravando, não temos noção da dimensão do filme. Ontem assistindo foi tudo maravilhoso. A gente grava as partes e não imagina como vai ficar depois. Eu adorei fazer parte disto. Interpretar a Alexsandra de 17 anos que se aceita, que se liberta do racismo sofrido na infância foi muito maravilhoso. A gente passa por isso. Me senti muito tocada. A minha família adorou também. Depois da experiência, ouvimos comentários das pessoas dizendo que se sentiram no lugar da protagonista porque passaram por situações semelhantes. Foi muito lindo!”, relata a estudante de Artes Visuais Bárbara Vicente.
A secretária de capotaria aplicativo Letícia Aparecida da Silva interpretou a mãe da protagonista. Para levar a família, amigos e vizinhos à sessão, ela mobilizou um ônibus cedido pela prefeitura de Bela Vista de Minas, onde mora. “Eu estava morrendo de ansiedade. É muito gostoso se ver na tela e saber que está representando milhões de mulheres que se identificam com esta história. Muito emocionante representar a Dona Lourdes, uma guerreira, e contar esta história linda da Alexsandra, pois muitas pessoas vivem esta situação. Todo mundo que assiste lembra de ter passado por algo semelhante. O filme também incentiva as pessoas a se aceitarem e a se amarem, independentes da cor da pele e do cabelo. Foi muito show! Estou me sentindo uma estrela”, conta Letícia.
De acordo com Alexsandra, os ataques racistas lhes trouxeram dificuldades para estudar na infância, no entanto, apesar das violências, manteve-se na escola e amava as aulas de redação, espaço em que exercitava o dom de criar e escrever histórias. Nesta terceira edição do projeto, ela enviou a história no final do prazo da prorrogação do concurso e não imaginava ser uma das dez selecionadas para a vivência audiovisual do Curta Vitória a Minas III.
“Ver a minha história sendo transformada em filme foi uma surpresa maravilhosa. Eu não achei que seria escolhida. O filme foi um processo que fomos construindo, assim, a cada passo, a gente acreditava mais, como se a ficha caísse aos poucos. A seleção, o curso, a filmagem, a edição. Cada fase parecia um sonho, mas estava realmente acontecendo. Através do projeto, aprendi a me amar ainda mais, a me colocar em primeiro lugar e a dizer sim pra mim, pra minha história, pra minha raiz, porque a minha história fez ser quem eu sou hoje”, comemora Alexsandra.
A obra revisita o passado e aponta caminhos para o fortalecimento e o reconhecimento. A emoção de contar uma história que toca outras pessoas aumentou ainda mais depois da autora ver o filme e a reação da plateia diante da telona de cinema. “Eu não sei falar em palavras. Eu comecei a chorar, mas é um choro de muita alegria, de vontade de gritar. Estou em êxtase! Não queria que passasse nunca. É mais do eu pensei. A estreia ficou cheia. As pessoas se emocionaram, se identificaram, me mandaram mensagens maravilhadas e gratas. Desde a ligação da pré-seleção, no concurso de histórias, a minha vida mudou. A cada etapa do projeto, coisas maravilhosas aconteceram. Você descobre que está num mundo gigante. Não tem como ser mais a mesma pessoa. Isso não é só um concurso de histórias. O projeto muda a sua alma, o seu pensamento, te põe pra frente, pra cima e alcança outras pessoas. É um projeto lindo!”, descreve Alexsandra.
A caravana de cinema em ruas e praças foi aberta no dia 21 de novembro e se encerrou em 03 de dezembro de 2024. O circuito realizou sessões gratuitas nos municípios de Colatina (21/11), Ibiraçu (22/11), no Espírito Santo, e em Conselheiro Pena (23/11), Periquito (24/11), Governador Valadares (25/11), Belo Oriente (26/11), Ipatinga (27/11), Coronel Fabriciano (28/11), Nova Era (29/11) e João Monlevade (03/12), em Minas Gerais.
O Curta Vitória a Minas III é patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e tem realização do Instituto Marlin Azul, Ministério da Cultura/Governo Federal. O objetivo é possibilitar aos moradores das cidades ao longo da Estrada de Ferro Vitória a Minas a oportunidade de contar histórias e transformar em filme, registrando as memórias, os costumes, os hábitos, as lendas e as peculiaridades destas localidades, contribuindo para o fortalecimento territorial e comunitário.
Texto: Simony Leite Siqueira
Fotos: Equipe IMA