As nuvens de chuva cobriram Ibiraçu na noite desta sexta-feira (22/11) levando a segunda sessão de cinema do Curta Vitória a Minas III, que aconteceria ao ar livre, para dentro do Ginásio Poliesportivo Dr. Antônio Barroso Gomes. A exibição em espaço fechado não apagou a emoção e o brilho do lançamento do filme “As Cercas”, de Otávio Maioli. A comunidade compareceu em massa para celebrar os laços de convivência enraizados neste território marcado pela imigração italiana.
Cerca de 400 pessoas se reuniram no local para prestigiar a ficção baseada em fragmentos de histórias reais vividas por antepassados na região. Na obra, inspirada em relatos contados pelo avô Wilson Maioli, o diretor aborda a desavença entre dois vizinhos por causa do conflito de limites entre suas terras. “As Cercas” é uma das dez histórias transformadas em filmes pelo projeto nas cidades do entorno da Estrada de Ferro Vitória a Minas.
O curta-metragem contou com a participação e o envolvimento intenso de moradores em atividades técnicas e artísticas, especialmente, na produção e no elenco. Havia um clima de muita alegria e expectativa para conferir a história na tela. No entanto, na semana passada, a equipe e o município foram impactados com o falecimento de Elias Recla, que interpretou Giácomo, um dos protagonistas da trama. Atuante e muito admirado no município, Elias idealizou vários projetos de preservação e valorização da memória e da cultura italiana. Atuou nos setores privado e público e, atualmente, presidia o Círculo Ibiraçuense de Cultura Italiana, além de representar a comunidade italiana no Espírito Santo. Durante a sessão, a dor da perda se misturaram à saudade do amigo e às lembranças deixadas pela produção do filme em Ibiraçu.
“A apresentação foi no ginásio e justamente na hora da sessão de filmes, a chuva começou a cair. Muita gente foi prestigiar o filme e para ver a homenagem ao Elias, uma pessoa muito querida na cidade. A sessão ficou lotada e as pessoas curtiram e aplaudiram muito o curta. Foi emocionante! Depois, no final, apresentamos uma making of das gravações em homenagem ao Elias com vídeos, fotos e relatos feitos por ele durante o processo de produção. Foi muito emocionante este momento final. O filme, como mescla um pouco de comédia e drama, foi igualmente marcante. Uma noite inesquecível”, relatou Otávio.
O administrador Gilberto Rosalém Júnior interpretou Giuseppe, o outro vizinho em conflito. “Foi uma experiência única e muito emocionante por causa de tudo o que passamos com o falecimento do Elias. Acho que o contexto da história, o que a gente viveu também, porque é uma história contada pelo meu tio, foi uma experiência única que vou levar para o resto da minha vida. A equipe que trabalhou, que veio para cá, era como se fosse da nossa família. Estou extasiado. Na hora que a gente vê a filmagem toda pronta, as cenas acontecendo, quando junta tudo, é maravilhoso. Eu só tenho a agradecer e a honrar por ter participado deste projeto. Estou muito feliz”, relata Gilberto, mais conhecido como Beto.
Quem interpretou Domênica, esposa de Beppe na trama, foi Elza Maria Baptista. A professora de Educação Infantil se surpreendeu com o resultado da produção na tela. “O filme ficou muito bem feito e editado. As nossas famílias gostaram muito, não imaginavam que o filme tivesse ficado tão legal porque não temos experiência de atuar, nunca tínhamos participado de nada. Foi surpreendente, mais do que a gente esperava. Eu, por exemplo, sempre fiquei nos bastidores, nunca estive em frente das câmeras. Aquelas partes da gravação que a gente errava, voltava, errava, voltava, acabaram no final ficando tão bacanas. Eu gostei muito do filme. Ficou muito real, mostrou a realidade da época”, relata Elza que também destacou o aprendizado e o sentimento de colaboração mútua entre os participantes no decorrer do set de filmagem.
A personagem Ilária, esposa de Giácomo na história, ganhou nuances especiais a partir da interpretação da professora de Português e Literatura, Maria Gorette Vescovi Matiuzzi. Ela falou da emoção de ver o filme pronto. “Foi uma experiência linda! Hoje, as emoções se misturaram muito. O momento da produção é uma coisa totalmente diferente, eu nunca imaginei que fosse tão bom. A emoção e a alegria de ver o filme pronto se misturaram à tristeza da nossa perda, uma perda que vai deixar marcas bonitas, para sempre. Eu me empolguei com o filme e fiquei muito feliz. Eu contava para os meus alunos e eles ficavam empolgados para ver. Queremos levar o filme para a escola, espalhar por aí e passear para ver este filme no trem e viver todas estas emoções de novo porque valeu muito a pena e faria tudo de novo com muito prazer”, relatou Gorette.
Quem viveu a emoção de contar uma história e transformar em filme na primeira edição do Curta Vitória a Minas há dez anos foi a bibliotecária Nilma Scarparti, moradora de Ibiraçu. Nesta terceira edição, ela interpretou uma das personagens que toma partido na briga entre os vizinhos. “Eu achei o filme maravilhoso. Foi um trabalho feito com muito carinho. A equipe estava toda envolta num clima de amizade. Foi muito tranquilo, engraçado, a gente se divertiu pra caramba fazendo as cenas. A presença do Elias no meio da gente marcou muito porque ele sempre foi uma pessoa voltada para cultura, era a chave mestra da cultura de Ibiraçu, então, pra nós, ele fechou a carreira dele, como um projetor da cultura, com chave de ouro. Foi muito lindo. O Otávio fez um trabalho maravilhoso. Os atores estavam divinos. Eu que já tinha vivido isso por trás das câmeras, agora, participar em frente das câmeras, foi maravilhoso”, conta Nilma, diretora do filme “O Segredo de Giuzzeppe”.
A sessão contou ainda com a presença da diretora de “Reciclando Vidas e Sonhos”, Ana Paula Imberti, moradora de Ibiraçu, e do diretor de “O T-Rex e a Pedra Lascada”, Luan Ériclis, morador de João Neiva, selecionados na segunda edição do Curta Vitória a Minas, além da participação da analista de Responsabilidade Social da Vale Viviane Fontes.
Depois do Espírito Santo, a caravana de cinema seguiu para terras mineiras. O Circuito de Exibição do Curta Vitória a Minas III desembarcou a telona de cinema na cidade de Conselheiro Pena. A atração deste sábado (23/11), às 19h30, é a ficção “Um Rio de Histórias”, da professora Márcia Cardoso.
Texto: Simony Leite Siqueira
Fotos: Mariana de Lima