Dezenas de espectadores prestigiaram nesta segunda-feira (25/11) a mostra de filmes feitos a partir de histórias reais e inventadas selecionadas pela terceira edição do Curta Vitória a Minas III. A Praça de Esportes, no centro de Governador Valadares, virou um grande cinema gratuito e aberto para a comunidade. Uma plateia concentrada e vibrante se formou neste quinto dia da caravana por ruas e praças. Cada nova história era uma emoção diferente diante da magia do cinema.
Duas obras feitas por moradores do município estrearam na noite sem chuva depois de um dia ensolarado: “A Velha do Rio”, de Levi Braga, e “Escasso”, de Pedro Siqueira. O primeiro curta-metragem nasceu de uma fábula criada pelo autor para contar a história de uma menina que aprende a navegar o rio para uma disputa inusitada. Para compor e preparar o elenco, o mestre de obras convidou familiares e amigos e se encarregou de contracenar com um e outro para ensaiar os papéis.
No filme “A Velha do Rio”, a protagonista Bianca é interpretada na infância, na adolescência e na velhice, respectivamente, pelas filhas Bianca Belarmino Braga e Camila Correa Braga; e pela irmã, Aparecida Ramos de Souza. Bernardo Correa Satler, neto do diretor, também participa de uma sequência da história. O amigo José Maria Augusto Celestino, o Zé Aranha, assumiu o papel do pescador e pai, e a amiga Sirleane Barros de Almeida representou a mãe da personagem principal. O pescador José Gonçalves dos Anjos, Seu Kioto, emprestou o barco, um dos principais elementos de cena, e fez figuração numa das sequências da obra.
Levi herdou da mãe Inês Ramos Braga a imaginação e a alegria de contar causos. Mas esta é a primeira história transformada em filme pelo mestre de obras. Assistir ao curta na telona lhe trouxe um profundo encantamento. “Eu senti muita emoção. As pessoas se emocionaram. Aplaudiram e até assobiaram. O filme tem 15 minutos, mas parece que durou um minuto porque eu estava em êxtase. O sentimento é inexplicável por ver todos assistindo ao meu filme. Eu me senti grande e, ao mesmo tempo, me sinto um aprendiz”, conta o mineiro.
Familiares e amigos estiveram presentes para celebrar a conquista. “Participar do filme dirigido pelo meu pai foi uma experiência única e muito especial. Foi emocionante ver minha família envolvida no projeto, com todos contribuindo de alguma forma para dar vida à história, além do apoio e carinho da equipe, fundamental para tornar tudo possível. Ter meus amigos e familiares juntos nesse momento tornou a estreia ainda mais inesquecível”, conta a engenheira ambiental Camila Correa Braga.
Apesar da estreia na atuação, o amigo Zé Aranha se sentiu feliz com o resultado na tela. “Eu gostei, ficou bom! Foi a primeira vez que eu fiz um filme. Mesmo assim, achei que me saí bem. Na hora que cheguei na sessão fiquei ansioso para poder ver. Levei minha família e os amigos também foram pra assistir”, relata o comerciante.
Outro lançamento da noite foi “Escasso”. Na história, dois vizinhos que vivem em conflito sofrem com a falta d’água na região e precisam encarar novos problemas quando apenas um deles passa a ter água em casa. O curta-metragem quer mostrar como a solidão, o distanciamento e a indiferença marcam as relações humanas na contemporaneidade. Ao mesmo tempo, como a compaixão e a solidariedade podem ser um caminho de reconexão e transformação pessoal e social.
Pedro convidou o operador de estação de água e auxiliar meteorológico aposentado Braz Porfírio Santos e a funcionária pública aposentada Genessi Dias Santos para contracenarem no drama. Braz e Genessi são casados e completaram 46 anos de matrimônio na noite de estreia do filme. Para Braz, a oportunidade de gravar o curta lhe trouxe lembranças da juventude. Nos anos 70, ele trabalhou como figurante em duas grandes produções do cinema: “Aladim e a Lâmpada Maravilhosa” (1973) e “Robin Hood, o Trapalhão da Floresta” (1974), ambos do diretor J. B. Tanko, que reuniam no elenco principal os comediantes Renato Aragão e Dedé Santana.
“Eu achei o curta magnífico, muito bem encaixadinho, dentro de tudo aquilo que a gente pôde fazer. Eu já tinha uma experiência anterior, mas esta agora foi bem diferente nesta fase da minha vida e ao lado da minha amada. Espero que o público sinta-se alegre ao assistir. Eu gostei muito de todas as histórias apresentadas na sessão. Muito obrigada pela chance de mostrar meu rosto nas telas uma outra vez, gratidão pela oportunidade de realizar aquilo que está dentro, que nasce e cresce com a gente, que é atuar, para que o povo possa refletir as boas coisas que temos para transmitir”, reflete Braz.
Genessi amou a experiência de participar do projeto e ficou surpresa com o resultado do filme na telona. “Maravilhoso! Fiquei muito emocionada. Levei a minha irmã e três sobrinhas. Elas também ficaram encantadas. Pra mim era tudo surpresa porque a gente filma três dias e apresenta a história em 15 minutos. Os profissionais são excelentes, fizeram uma montagem maravilhosa. A gente fica até boba! Fiquei muito feliz porque neste dia celebramos 46 anos de casamento. Foi uma alegria imensa, muito obrigada”, celebra a funcionária pública aposentada. Ela torce para que continuem surgindo histórias tão bonitas quanto as que foram transformadas em filmes e exibidas na noite desta segunda-feira.
Quem também se surpreendeu com o impacto da obra na tela foi o diretor Pedro Siqueira. “Foi incrível! É totalmente diferente ver o filme na tela em comparação ao que a gente vê quando ainda está editando. Muito bom ter tanta gente na sala de exibição. É uma oportunidade muito importante para desenvolver a cultura em Valadares. E também muito gratificante ver o interesse das pessoas nos filmes, além da emoção dos atores quando se viram no telão. Uma oportunidade única. Todos os filmes ficaram ótimos, deu pra sentir um pouco da personalidade de cada diretor em seus filmes”, conta Pedro que, após a seleção no concurso de histórias do Curta Vitória a Minas III, participou de uma imersão audiovisual junto com os outros autores e autoras para aprender noções audiovisuais sobre como transformar histórias em filmes. A sessão contou com a participação de representantes da Vale na comunidade e do diretor do filme “Contos Ferroviários”, Everton Villaron de Souza, selecionado na primeira edição do projeto, em 2014.
Belo Oriente é a próxima parada da caravana de cinema. Nesta terça-feira (26/11), às 19h30, tem sessão gratuita de filme com pipoca na praça em frente à Igreja Católica de Bom Jesus do Bagre. Toda a família está convidada para se divertir com o lançamento do filme “Boi Balaio”.
Texto: Simony Leite Siqueira
Fotos: Mariana de Lima